O Ministério da Economia manteve nesta terça-feira sua projeção de queda para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 de 4,7%, destacando “forte retomada” da atividade no atual trimestre, apesar da expressiva contração verificada entre abril e junho, ao mesmo tempo em que ajustou para cima suas contas para a inflação.
A perspectiva para o PIB seguiu inalterada apesar de o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, ter pontuado recentemente que ela seria revisada neste mês após a percepção de que o maior impacto por conta da crise de coronavírus já teria ficado para trás.
Também nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que o governo não irá mais criar o programa Renda Brasil e continuará apenas com o Bolsa Família.
“Até 2022 no meu governo está proibido falar em Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final”, disse o presidente em um vídeo publicado esta manhã em suas redes sociais.
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A decisão de enterrar o programa, que o governo via como o caminho para deixar sua marca e atrair a fidelidade das famílias mais pobres, veio depois de uma série de informações de medidas duras que a equipe econômica estaria analisando para tentar financiar o programa. Entre elas, congelar por dois anos aposentadorias e pensões, desvincular o reajuste do salário mínimo das aposentadorias mais baixas e endurecer as regras para concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência em famílias de baixa renda.
“Eu já disse há poucas semanas que jamais vou tirar dinheiro dos pobres para dar aos paupérrimos. Quem por ventura vier propor para mim medidas como essas eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa. É gente que não tem o mínimo de coração, não tem o mínimo de entendimento de como vivem os aposentados no Brasil”, disse o presidente.
Bolsonaro não questionou as informações publicadas pela imprensa e admitiu que pudessem estar sendo consideradas pela equipe econômica, mas afirmou que não concordará.
Incertezas e inflação mais alta
Em nota, a Secretaria de Política Econômica (SPE) avaliou que os resultados do segundo trimestre reduziram a variância das projeções trimestrais, mas frisou que a incerteza continua significativamente elevada.
“O desvio padrão das projeções para a variação interanual do terceiro trimestre coletadas pelo Focus é de 2,4 pontos percentuais. Isso significa que, utilizando a mediana da projeção do PIB divulgada em 4 de setembro para este trimestre e a variação de um desvio padrão, o intervalo de crescimento do PIB trimestral é de 4,0% a 8,8%, considerando o ajuste sazonal”, pontuou.
A SPE vê um crescimento do PIB de 7,3% no terceiro trimestre sobre os três meses anteriores, com queda de 4,9% ante igual período do ano passado.
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Para a inflação medida pelo IPCA, a perspectiva agora é de alta de 1,83% em 2020, acima da expectativa anterior de 1,60%.
Para 2020, o alvo oficial para o IPCA é de 4%, com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual, mas os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a atividade deverão fazer o país fechar o ano abaixo do piso da meta.
No boletim Focus mais recente, economistas ouvidos pelo Banco Central estimaram retração de 5,11% para o PIB neste ano e IPCA de 1,94%.
Para 2021, a conta para o PIB foi mantida em alta de 3,2%, com a projeção para a inflação caindo a 2,94%, de 3,24% antes.
Com isso o avanço de preços na economia fica ainda mais longe do centro da meta de inflação para o próximo ano, que é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.