Economia

Inflação baixa em 2019 é oportunidade para o México reduzir juros e aquecer consumo

O dado também é um sinal de que a economia do país pode ter ficado no zero a zero no ano passado

cédulas de peso mexicano
Fernando Macias Romo/Shutterstock
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Segundo informações do El Financiero, o México encerrou 2019 com uma inflação anual de 2,83%. É segundo nível mais baixo desde 1970, quando o Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi) do país iniciou a medição do indicador.

A inflação também ficou abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central do país, o Banxico, estipulada em 3%. O dado traz consigo boas e más notícias: se por um lado o México tem uma clara oportunidade de reduzir sua taxa básica de juros já no início de 2020, por outro lado tem a confirmação de a economia do país pode não ter saído do lugar em 2019.

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Ainda em novembro, a previsão do Banxico era de que o país encerraria 2019 no zero a zero ou ainda com uma pequena retração no PIB. A aposta do Banco Mundial, segundo dados revisados e divulgados na quarta-feira (8), é de que a economia mexicana ficou estagnada em 2019.

O economista mexicano Enrique Quintana, que escreve para o El Financeiro, disse na última segunda-feira (6) que a indústria automotiva mexicana, um dos segmentos mais fortes da indústria do país, a exemplo do que ocorre também no Brasil, dependerá fortemente do que acontecer nos Estados Unidos ao longo de 2020.

Ele explica que, há anos, a conexão relevante entre os dois países não entre entre o PIB do México e o PIB dos EUA, mas entre o PIB mexicano e a indústria do vizinho. “Em novembro de 2019, a produção industrial dos EUA caiu 0,7% à taxa anual; Nos três meses de setembro a novembro, o declínio foi em média de 1,3%, correspondendo à estagnação mexicana. A hipótese de que houve uma dissociação entre o crescimento do PIB do México e a produção industrial nos EUA poderia ter sido sustentada nos primeiros meses do ano. No final de 2019, fica claro que a trajetória do PIB mexicano já segue a indústria dos EUA,” escreveu Quintana.

Em dezembro, segundo dados do Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês), a atividade industrial americana foi a mais fraca em mais de uma década (47,2). É o nível mais baixo de atividade desde 2009, o que, segundo analistas, frusta as expectativas de acomodação e melhora no setor após a trégua estabelecida na guerra comercial entre os EUA e a China.

As previsões para os EUA, especialmente para a indústria, para 2020 não são muito animadoras. Apesar da expectativa de que uma primeira parte do acordo EUA-China saia já nas próximas semanas, o país continuará sofrendo os efeitos de uma desacelaração mundial, além dos possíveis efeitos políticos de um ano eleitoral.

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Em um primeiro momento, resta ao México continuar a apostar na redução dos juros. Em dezembro, o Banco Central do país cortou os juros pela quarta vez seguida. A decisão já era esperada pelo mercado, afinal taxas mais baixas tendem a aumentar o consumo e o crédito e, portanto, reanimar a economia. Negociações pontuais que se seguem à renovação do tratado comercial com o Canadá e os EUA também precisam ser acompanhadas com atenção.

Internamente, porém, analistas estão preocupados com a situação fiscal do país, visto que o atual governo tem tomado medidas um tanto populistas que podem reduzir a capacidade do país de fazer investimentos. É o caso, por exemplo, do ajuste de 20% do salário mínimo do país agora em 2020.