Economia

Mais um efeito da COVID-19: América Latina testará, pela primeira vez, juros reais negativos

Para enfrentar os impactos do novo coronavirus no nível de atividade, os países da América Latina estão implementando uma política monetária agressiva

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Foto: Shutterstock
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Para enfrentar os impactos do novo coronavirus no nível de atividade, os países da América Latina estão implementando uma política monetária agressiva e seguindo, pela primeira vez, o caminho das taxas de juros reais negativas. É o que mostram relatórios de instituições como o Bradesco e a Infinity Asset Management.

Chile e Peru já levaram suas taxas, respectivamente, para 0,5% e 0,25% (o menor nível nominal entre os emergentes) ao ano. O Bradesco, segundo mostrou o Valor Econômico, aposta que a inflação nas duas economias chegará a 2,5% e 2,8% até o fim de 2020, o que levaria os dois países a experimentar juros negativos.

O mesmo estaria para acontecer na Colômbia. Atualmente, a taxa base de juros do país está em 3,25%, mas o Bradesco estima que ela poderá chegar a 2,75% no final de 2020. Como a inflação ao consumidor é projetada em 2,8%, a taxa real de juros ficaria negativa no país.

Segundo o relatório do Bradesco, o México chegaria perto, mas não alcançaria os juros negativos. Por ora, a aposta do Bradesco é de que o Banxico reduzirá a taxa básica dos atuais 6% ao ano para 3,5% ao ano, e de que a inflação deste ano chegue a 2,9%. Segundo um ranking do economista-chefe da Infinity, Jason Vieira, com as 40 principais economias do mundo, o México terminaria o ano com juros reais de 1,71%.

O Brasil, maior economia da região, também ainda estaria um tanto distante dos juros reais negativos. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central levou a Selic para um novo piso histórico, de 3% ao ano. Em ata divulgada nesta terça-feira (12), o Copom disse que não descarta um novo corte na taxa básica de juros, “não maior que a anterior”, em -0,75 ponto percentual. Considerando isso, para o Bradesco, o país pode fechar 2020 com uma Selic a 2,25% ao ano, e uma inflação de 2,2%.

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Nas projeções da Infinity, feitas no dia 6 de maio, antes da divulgação da ata do Copom, o Brasil ainda aparece entre aqueles com juros reais mais altos no mundo: 0,38% ao ano, bem acima da taxa média de -0,54% ao ano projetada para os próximos 12 meses para o conjunto de países analisados.

Na ata, o Copom admite que o choque desinflacionário de demanda levará a uma desaceleração na inflação, a “níveis não compatíveis com as metas” previstas lá no começo do ano. A ata também deixa claro que há uma discussão entre os membros do Conselho sobre um limite, uma taxa operacional mínima da qual o país não poderia passar.