- O resultado, que inclui também investimento conjunto esperado para os três blocos de aeroportos de cerca de R$ 6,1 bilhões ao longo de 30 anos de concessão, foi celebrado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas;
- O governo de Jair Bolsonaro tenta levar adiante sua agenda de privatizações para reanimar a economia atingida pelos efeitos da pandemia da COVID-19.
O governo federal levantou R$ 3,3 bilhões no leilão para concessão à iniciativa privada de 22 aeroportos nesta quarta-feira, com ágios elevados em relação aos valores mínimos, mas com participação modesta de estrangeiros na disputa que teve como principal vencedora a brasileira CCR, uma das maiores companhias de infraestrutura não só do país mas da América Latina.
Com oferta de R$ 2,88 bilhões, a CCR levou a concessão de 9 terminais do bloco Sul, o mais cobiçado, ante valor mínimo de R$ 130,2 milhões. A oferta superou as propostas feitas pela espanhola Aena e pelo Infraestrutura Brasil, do Pátria.
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A oferta de R$ 754 milhões da CCR também foi a vencedora do Bloco Central, com 6 aeroportos, ante mínimo de R$ 8,1 milhões. A empresa superou proposta feita pelo consórcio Central Airports, formado por Socicam Infraestrutura e o fundo de investimento XP Infra III.
A francesa Vinci, que já opera o terminal de Salvador, ficou com o bloco de sete terminais da região Norte, com lance de R$ 420 milhões, bem acima do mínimo de R$ 47,8 milhões e que bateu seu único rival, o consórcio Aerobrasil, que ofereceu R$ 50 milhões.
O resultado, que inclui também investimento conjunto esperado para os três blocos de aeroportos de cerca de R$ 6,1 bilhões ao longo de 30 anos de concessão, foi celebrado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, num momento em que o governo de Jair Bolsonaro tenta levar adiante sua agenda de privatizações para reanimar a economia atingida pelos efeitos da pandemia da COVID-19.
“O resultado foi extraordinário, considerando os efeitos da crise que atingiram o setor em cheio”, disse Freitas em coletiva de imprensa online após o leilão. “Os problemas conjunturais passam, os contratos vão permanecer e é bom perceber que os grupos estão enxergando as oportunidades e longo prazo.”
Para especialistas do setor, o ágio total de quase 18 vezes o mínimo definido no edital de fato surpreendeu, considerando o número relativamente limitado de concorrentes estrangeiros.
“A despeito da crise atual e dos potenciais efeitos de médio prazo da pandemia sobre o setor aeroportuário, prevaleceu o interesse das companhias que já operam no Brasil e que conhecem melhor o potencial de negócios no longo prazo”, disse à Reuters Ricardo Jacomassi, economista-chefe e sócio da TCP Partners.
O governo federal promove na quinta-feira o leilão de trecho da Fiol, ferrovia de 537 quilômetros na Bahia, para a qual espera investimento de R$ 3,3 bilhões num prazo de 35 anos. Na sexta será vez de cinco terminais portuários, quatro no Porto de Itaqui (MA) um em Pelotas (RS).
A expectativa do governo é de que as concessões de infraestrutura ao longo do atual governo, até ano que vem, tragam investimentos de R$ 260 bilhões nos próximos anos.
Os blocos concedidos e o que as empresas pretendem fazer a partir de agora
O bloco Sul, que a CCR venceu por meio de sua subsidiária Companhia de Participações em Concessões, inclui os terminais de Curitiba, Bacacheri, Foz do Iguaçu e Londrina (PR), Navegantes e Joinville (SC), e Pelotas, Uruguaiana e Bagé (RS). A empresa também levou o Bloco Central, com os aeroportos de Goiânia (GO), Palmas (TO), São Luís e Imperatriz (MA), Teresina (PI) e Petrolina (PE). A CCR já é operadora do aeroporto de Confins (MG) em parceria com a europeia Flughafen Zürich.
Segundo o presidente-executivo da CCR, Marco Cauduro, como tem cerca de R$ 5 bilhões em caixa, a companhia não deve ter dificuldades para financiar o pagamento da outorga. “E o resultado de hoje não muda nosso plano de participar em outras licitações”, disse o executivo da companhia, que também opera concessões de rodovias e de mobilidade urbana.
O bloco Norte, arrematado pela Vinci, contém os terminais de Manaus, Tabatinga e Tefé (AM), Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), e Rio Branco e Cruzeiro do Sul (AC).
Segundo Julio Ribas, executivo da Vinci, a companhia vê possibilidade do terminal de Manaus se tornar um hub para interligar o Brasil a outros países da América Latina.
Ele citou entre os atrativos do aeroporto amazonense seu potencial para cargas e passageiros. “Manaus é o terceiro maior terminal de carga do país, com 120 mil toneladas por ano”, disse ele, acrescentando que o volume é três vezes maior que o movimentado em Salvador. “Temos apetite para participar em novos leilões de aeroportos”, acrescentou o executivo.
Após o primeiro leilão de aeroportos do governo – o último tinha sido em 2017 –, o ministro da Infraestrutura estimou que a próxima licitação no setor ocorra no primeiro semestre de 2022, envolvendo os dois terminais mais cobiçados pelo mercado, o de Congonhas (SP) e o do Galeão (RJ).