Economia

No Brasil e no México, presidentes populistas confundem investidores

De espectros políticos opostos, Jair Bolsonaro e Lopez Obrador confundem o mercado com suas estratégias econômicas e de combate à pandemia

Jair Bolsonaro e Lopez Obrador
Foto: REUTERS/Edgard Garrido/Adriano Machado
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  • Presidente mexicano seria “menos pior” do que os investidores esperavam, enquanto presidente brasileiro tem sido “menos bom” do que esperavam;
  • Jair Bolsonaro gastou 8,6% a mais do PIB em resposta à pandemia de COVID-19, enquanto Lopez Obrador gastou apenas 0,6% a mais; 
  • Enquanto as ações e títulos do México atraíram US$ 355 milhões em março, o Brasil perdeu US$ 465 milhões;
  • As trocas nos comandos de empresas estatais brasileiras, como Petrobras e Banco do Brasil, geraram desconfiança do mercado.

Quando um populista de esquerda e um parlamentar de extrema-direita chegara ao poder nas duas maiores economias da América Latina, os investidores pensaram que sabiam quem, afinal, atuaria a favor do mercado. 

Dois anos e uma pandemia depois, no entanto, investidores desiludidos agora mudam suas apostas de um Brasil que antes prometia reformas e privatizações para um México que se beneficiará do pacote bilionário de recuperação econômica dos Estados Unidos.

O fato é que o presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador e nem o presidente brasileiro Jair Bolsonaro agiram conforme o esperado pelo mercado. Lopez Obrador tem se revelado “menos pior”do que os investidores esperava, enquanto Bolsonaro tem sido “menos bom”, disse Marshall Stocker, gerente da Eaton Vance, de Boston. 

Embora a maneira como ambos os líderes têm lidado com a pandemia de COVID-19 até aqui, com discursos de negação e desconfiança à ciência, suas respostas econômicas foram muito diferentes. 

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Enquanto Bolsonaro gastou 8,6% a maios do Produto Interno Bruto do país no combate à pandemia, Lopez Obrador mal gastou 0,6% a mais, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

“A análise é de que o México não aderiu a nenhuma política agressiva de afrouxamento fiscal como alguns de seus vizinhos”, explica Patrick Esteruelas, chefe de pesquisa Emso Asset Management em Nova York.

Isso, somado à expectativa quanto ao pacote de recuperação econômica de US$ 1,9 bilhão assinado pelo presidente americano Joe Biden, deverá impulsionar a retomada do crescimento econômico no México

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De olho nesse movimento, os grandes investidores também estão adaptando seus movimentos. Apesar de México e Brasil terem sofrido com a saída de investidores estrangeiros em fevereiro, o fato é que as ações e títulos do México atraíram US$ 355 milhões em março, enquanto o Brasil amargou uma saída de US$ 465 milhões, conforme mostram dados do Institute of International Finance. 

Agravamento da pandemia provocou perda de apoio

O agravamento da pandemia de COVID-19 no Brasil, onde, de acordo com estimativas da comunidade científica as mortes podem superar as registradas nos Estados Unidos, contribuiu para essa mudança de foco dos investidores em favor do México.

O Brasil tem mais de 13 milhões de casos de COVID-19 e mais de 336 mil mortes, enquanto o México registrou 2,2 milhões de casos e cerca de 205 mil mortes, conforme cálculo da Reuters. 

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“Bolsonaro perdeu o apoio de grande parte da comunidade empresarial, de boa parte da população e de boa parte do alto escalão militar”, disse Elizabeth Johnson, diretora de pesquisa no Brasil da TS Lombard, acrescentando que disputam internas sobre o orçamento da União terminaram de azedar as relações entre Executivo e Congresso. 

Troca-troca no comando de estatais aumentou desconfiança

Bolsonaro também pegou investidores de surpresa em fevereiro quando demitiu o presidente da Petrobras após uma disputa sobre o aumento dos preços dos combustíveis. Em seguida, em março, o CEO do Banco do Brasil, o maior banco estatal do país, renunciou após desgaste com Bolsonaro relacionado ao programa de fechamento de agências. 

O que foi interpretado como uma possível interferência do governo nas estatais gerou uma queda nas ações das duas estatais. O mercado ainda não se recuperou totalmente. 

A desvalorização do real em relação ao dólar também foi maior do que a desvalorização do peso mexicano: 7% e 1%, respectivamente. Se a moeda americana se fortalecer mais, o efeito de uma moeda enfraquecida beneficiaria mais o México, voltado para as exportações, do que o Brasil, onde um real mais fraco aumentaria as pressões inflacionárias. 

Traduzido por LABS.