Economia

PIB do Brasil volta ao tamanho de 2009 após queda recorde de 9,7% no segundo trimestre

O consumo das famílias, que responde por dois terços de toda a atividade econômica no Brasil, sofreu impacto particularmente forte

Mulher usando máscara protetora e protetor facial fala ao telefone enquanto pessoas caminham em uma popular rua comercial em meio ao surto de Covid-19 em São Paulo, Brasil, 15 de julho de 2020. REUTERS/Amanda Perobelli
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  • A economia do país não deve voltar ao tamanho do ano passado até 2023, diz analista;
  • O Ministério da Economia foi mais otimista, observando que muitos países do mercado emergente registraram contrações mais severas.

A economia brasileira sofreu contração recorde no segundo trimestre ao despencar 9,7% sobre os três meses anteriores, com perdas históricas na indústria e no setor de serviços devido ao auge das medidas de contenção da Covid-19.

De acordo com dados informados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a contração do Produto Interno Bruto (PIB) se aprofundou entre abril e junho depois de queda de 2,5% no primeiro trimestre,

A magnitude da queda da atividade na economia no segundo trimestre foi enorme: a indústria caiu 12,3%, serviços -9,7%, investimento fixo -15,4%, consumo das famílias -12,5% e gastos do governo -8,8%.

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O consumo das famílias, que responde por dois terços de toda a atividade econômica no Brasil, sofreu um impacto particularmente forte, disse o IBGE. Apenas a agropecuária cresceu no trimestre, com resultado positivo de 0,4%.

Carlos Kawall, diretor do Banco ASA e ex-secretário do Tesouro, disse que a economia do Brasil dificilmente voltará ao ponto em que estava no ano passado antes de 2023.

É um período horrível para a economia. Do ponto de vista da economia, das implicações sociais e do desemprego, foi um desastre.

Carlos Kawall, diretor do Banco ASA

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Kawall acrescentou que está revisando para baixo sua previsão de crescimento para 2021, de 2,7% para 2,1% devido à incerteza sobre o mercado de trabalho e as perspectivas de consumo.

O Ministério da Economia foi mais otimista, observando que muitos dos mercados emergentes apresentaram maiores contrações no segundo trimestre e que as perspectivas para este ano estão ficando melhores nas últimas semanas.

”Os indicadores de alta frequência mostram que a atividade continua se recuperando. No entanto, para que a recuperação seja consistente, é importante continuar a reforma estrutural e a agenda de consolidação fiscal”, disse o ministério em comunicado.

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A previsão atual do governo é de uma contração de 4,7% do PIB este ano, o que ainda seria a maior queda anual desde que os registros começaram em 1900. A previsão média da pesquisa semanal feita pelo Banco Central com o mercado é de um declínio de 5,3%.

A desaceleração do período abril-junho foi mais acentuada do que os economistas esperavam. A mediana das estimativas captada pela Reuters junto a economistas era de queda de 9,4% no trimestre e queda de 10,7% na comparação anual.

O valor do PIB brasileiro a preços correntes foi de R$ 1,65 trilhão (US$ 306 bilhões) no segundo trimestre, informou o IBGE. O IBGE também revisou os números de janeiro-março para uma queda de 2,5% no PIB, ante a estimativa inicial de queda de 1,5%.