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A evolução do mercado de venture capital do Brasil: país já conta com 316 gestoras

Nos últimos cinco anos, surgiram 84 novas firmas de venture capital no país; dois terços das VCs brasileiras priorizam investimentos em startups early-stage

Um investidor e o dono de uma startup fictícia se olham
Foto: Shutterstock
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O mercado de venture capital vive um excelente momento globalmente, e no Brasil o cenário não é diferente: o país já tem pelo menos 316 gestoras de venture capital, das quais 84 surgiram nos últimos cinco anos, evidenciando o boom do setor. Os dados foram compilados pelo Emerging Venture Capital Fellows, grupo formado por mais de 250 analistas de VC da América Latina, em parceria com a Endeavor e a ABVCAP. 

O relatório Radar VC mostra que São Paulo concentra 55% das gestoras de VC do Brasil, 175 empresas estão sediadas lá; em seguida vem o Rio de Janeiro, com 29 VCs e Santa Catarina, com 15. Pelo menos 17% delas já têm escritórios no exterior.

A grande maioria das gestoras brasileiras (60%) realiza investimentos em startups early-stage, priorizando rodadas anjo (32), pre-Seed (75) e Seed (151). Há 102 fundos que se concentram em Séries A. O número de fundos brasileiros que investem em rodadas Série B em diante é reduzido, uma vez que a gestora precisa ter um montante de ativos sob gestão maior. 

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Ao analisar o tamanho dos cheques assinados por estágio de investimento, o Radar VC mostrou que no estágio Seed, o investimento médio é de R$ 4,1 milhões e o investimento máximo registrado até aqui foi de R$ 19,2 milhões; na Série A, o aporte médio é de R$ 6,2 milhões e o máximo de R$ 25,8 milhões. 

As fintechs lideram o ranking de setores que mais recebem investimentos venture capital no Brasil, seja em número de deals ou volume de financiamento; em seguida vêm as healthtechs, que já abocanham uma fatia significativa de 35% dos investimentos. Em terceiro lugar estão as agtechs, presentes nas teses de investimentos de 55 gestoras. Quando se olha para o modelo de negócio, de todas as firmas mapeadas, os modelos B2B estão presentes nas teses de 32% das gestoras e SaaS em 22%. 

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O Radar VC também mostra que as gestoras brasileiras ainda atuam pouco com venture debt, uma alternativa de financiamento em forma de dívida não conversível, com garantias em contrapartida, mas que não abocanha equity da startup. O modelo possibilita que empresas iniciantes ganhem tração com uma diluição mínima e possam adiar a captação de recursos para um momento mais interessante da jornada da empresa. Nos Estados Unidos, o venture debt responde por 17% dos investimentos feitos em startups, de acordo com dados do Pitchbook. 

Anderson Thees, vice-presidente da ABVCAP e managing partner da Redpoint eVentures, diz que há cinco anos era difícil pensar em fundos de capital de risco especializados por setor e estágio no Brasil, mas o ecossistema evoluiu rapidamente. Para os próximos anos, Thees afirma que o mercado de VC brasileiro pode esperar por mais escala e mais especialização. “O ideal seria termos fundos locais, ou com alocação local, em todos os estágios”, disse. 

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De acordo com Mártin Lima, cofundador da Emerging VC Fellows, a indústria de capital de risco brasileira carece de informação e transparência, daí a ideia de mapear a atividade das gestoras.

“Como ‘capitalistas de risco’, parte de nosso trabalho é procurar startups que estejam de acordo com nossa tese de investimento. Ter um único lugar onde os fundadores encontram informações sobre como investimos é uma grande ajuda na localização das melhores startups. Como resultado, os empresários entendem melhor as teses dos gestores e se conectam com seus próximos parceiros”, disse.