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A logística por trás do "choque de realidade digital" da Via

Um projeto piloto de gestão de armazéns na nuvem, em Contagem (MG), pode ser o ponto de virada que a Via buscava para se tornar um operador logístico não só para a Via

Centro de distribuição da Via em Jundiaí. Foto: Divulgação.
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Com cerca de 97 milhões de clientes, mais de 1 milhão de metros quadrados de armazenagem e 1 mil lojas espalhadas por todo o Brasil, a Via (antes Via Varejo) tem uma das maiores malhas logísticas do país. O grupo varejista dono de Casas Bahia e Ponto (antigo Ponto Frio) faz duas entregas por segundo e tem quase 9 mil pontos de retirada de produtos em todo o Brasil.

“A Via era uma empresa basicamente offline antes da pandemia, vendíamos 80% offline. Antes dessa transformação digital, a empresa tinha 5 mil produtos e vendia todos os dias, cerca de 1.100 itens, sendo que 200 SKUs [número de referência único para produtos] faziam 80% das vendas. Era fácil para um gestor de operação de central de distribuição manipular isso”, comenta o diretor executivo de logística e abastecimento da Via, Fernando Gasparini. “Olha como a nossa vida era fácil”, brinca.

O diretor executivo de logística e abastecimento da Via, Fernando Gasparini. Foto: Divulgação.

Em 2020, mesmo com a pandemia mantendo 80% das lojas fechadas por meses, a empresa teve receita líquida de R$ 28,9 bilhões, crescimento de 12,7% na comparação com 2019 e viu as vendas online crescerem de 23,9% para 48,5% do volume bruto de mercadores, o chamado GMV. No segundo trimestre deste ano, mais um salto: as vendas digitais alcançaram 65% de participação no GMV. 

Também como parte da sua transformação digital, a Via se abriu para vendedores terceiros (também chamados de sellers). Em poucos meses, o número de produtos oferecido saltou de 5 mil para uma “infinidade”, nas palavras Gasparini (para ser exato, foram 33 milhões de SKUs em setembro).

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Redesenhando a gestão dos centros de distribuição

Parte do plano de crescimento da empresa é usar sua abrangência nacional como uma vantagem para ser prestadora de serviço para esses vendedores parceiros e até mesmo para concorrentes, e otimizando sua logística para ir além das entregas mais rápidas. Para atingir esse objetivo, a empresa precisa empregar de forma eficiente cada metro quadrado de seus armazéns e lojas.

No começo de setembro, a companhia alcançou a marca de 100 mil vendedores ativos realizando suas transações por meio do marketplace. Com essa mudança estratégica, a companhia trouxe uma diversidade muito maior de produtos para seus consumidores — e alguns desafios para o time responsável por dar suporte ao processo.

A ideia de trazer sellers para dentro é a estratégia de diluir custos que nós já temos. O que isso traz de vantagem? A concorrência, para chegar no número de metros quadrados que temos na Via, terá custos. Nós [por outro lado] vamos diluir custos que já temos, então, só vamos melhorar nossos resultados

FERNANDO GASPARINI, DIRETOR EXECUTIVO DE LOGÍSTICA E ABASTECIMENTO DA VIA.

Gasparini comenta que o grupo varejista tomou um “choque de realidade com o mundo digital”. Isso fez com que surgisse a demanda por redesenhar a gestão dos centros de distribuição das marcas, por exemplo.

“A Via se coloca numa posição de ser um canal onde o cliente brasileiro pode comprar o que ele quiser e na hora que ele quiser. A logística tem de ser ágil para poder suportar essa movimentação de produtos”, conta o diretor da Via.

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Nesse processo, a Via trouxe como parceira a solução da Manhattan Associates, provedora de soluções para cadeia de suprimentos, para que toda sua operação fosse gerida por uma solução em nuvem. Por meio da ferramenta é possível gerir a cadeia logística (supply chain) de forma unificada, combinando demanda, fornecimento, mão de obra, organização de estoque e automação.

A implementação do projeto piloto foi finalizada em Contagem (MG) e a previsão é de que o processo inteiro de migração da gestão atual para a nova ferramenta seja concluído até o final do ano que vem, em todos os demais 27 centros de distribuição, localizados em 20 estados e no Distrito Federal.

Para o diretor de vendas da Manhattan Associates Brasil, Marco Beczkowski, a solução dá escalabilidade e flexibilidade para oferecer suporte a um negócio omnichannel de grande porte como as operações da Via.

“É um plano ambicioso. Uma mesma solução consegue atender tanto operadores logísticos quanto varejistas. E também, por ser uma ferramenta de gerenciamento de armazéns (WMS) omnichanel, faz ao mesmo tempo operações de abastecimento de loja, de e-commerce e de operador logístico”, explica Beczkowski.

Outro ponto que deve acelerar a “mudança para a nuvem” é a função de replicar as configurações de um centro de distribuição em várias outras unidades da cadeia.

“É um aplicativo único, criado inteiramente a partir de microsserviços, o que significa que é possível ‘configurar e esquecer’, no que se refere a preocupações com desempenho, resiliência e capacidade de ampliação”, afirma o diretor da Manhattan Associates Brasil. “Muitos varejistas estão conseguindo atender prazos curtos, mas não da forma mais eficiente”.

Via quer oferecer logística como serviço

O diretor da Via explica que a varejista quer ir muito além de atuar como vitrine. A ideia é que, com uma operação mais digitalizada, a empresa possa cuidar de todas as etapas do processo de venda dos produtos de terceiros, desde a entrega até as demandas de logística reversa.

Assim, a companhia pode controlar a jornada completa dos pedidos e fortalecer sua marca junto aos clientes.

A Via está entrando um pouco mais tarde nesse negócio, mas a gente está indo por um caminho diferente da concorrência. Nós queremos ser o operador logístico, queremos atender o seller não só nos nossos canais, mas também no Mercado Livre, Magazine Luiza, onde ele vender

FERNANDO GASPARINI, diretor executivo de logística e abastecimento da Via.

Além disso, o executivo explica que a Via pode usar de sua escala para oferecer vantagens aos vendedores em preços de frete, velocidade de entrega e outros.

Segundo Gasparini, a Via planeja oferecer esse serviço logístico para parceiros comerciais e vendedores cadastrados em sua plataforma a partir de 2022.