Liderar uma startup no Brasil não é uma tarefa fácil para ninguém, mas para as mulheres e para os negros o desafio é ainda maior. Apesar de representarem 51,2% da população brasileira, as mulheres estão entre as lideranças de apenas 4,7% das startups do país, de acordo com o Female Founders Report 2021. No caso dos negros, que representam 55,8% da população, o índice de lideranças é apenas um pouco maior: 5,8%, segundo um mapeamento da Associação Brasileira de Startups.
Com base nesses e em outros dados, o grupo de articulação na área de políticas públicas para o ecossistema de startups Dínamo fez um estudo sobre diversidade e inclusão, comparando o Brasil a países como Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Grécia, Noruega e Suécia.
Iniciativas internacionais vão além do financiamento
O relatório lista 13 iniciativas nacionais e outros 13 programas internacionais, com atenção especial para políticas públicas governamentais. Enquanto no Brasil o foco das principais políticas de governos (estaduais e federal) está no crédito para os empreendedores, nos demais países mapeados os programas são mais amplos, com foco não só no incentivo financeiro de grupos minorizados, mas também na capacitação e na formação de redes de relacionamento,
“O principal aprendizado desse mapeamento é a constatação do atraso que nós temos em relação às políticas públicas que tratam do tema de diversidade e inclusão no ambiente de inovação e tecnologia”, afirma o diretor-presidente do Dínamo, Rodrigo Afonso.
O mapeamento lista diversas ações ao redor do globo e destaca como um bom exemplo o Black Enterpreneurship Program, iniciado no Canadá em abril de 2021. O programa é uma parceria entre governo e iniciativa privada para apoio aos empreendedores negros. Por meio dele, será possível financiar empresas, organizações sem fins lucrativos e pesquisas lideradas por negros. No total, o país pretende investir até US$ 350 milhões durante os próximos quatro anos.
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O grupo acredita que é possível adaptar políticas inclusivas existentes para que o ecossistema de empreendedorismo e inovação seja direcionado para os grupos e públicos que devem ser incluídos. Por exemplo, se há linhas de crédito para pequenos empreendedores, pode-se incluir, nos critérios de seleção, uma pontuação adicional para os empreendimentos liderados por mulheres — o que já acontece em países como a Itália.
Não falta conhecimento de quem precisamos incluir, nem de como fazer. O que precisamos é de coragem para formular essas políticas públicas.
Rodrigo Afonso, DIRETOR-PRESIDENTE DO DÍNAMO.
O mapeamento destaca ainda que cidades e estados brasileiros possuem várias iniciativas para além da esfera federal, a exemplo de São Paulo.
Faltam dados sobre impacto
Por outro lado, mesmo iniciativas pioneiras podem perder seu impacto por conta da falta de dados sobre os resultados dessas ações. Esse é um dos principais problemas revelados pelo mapeamento.
A falta de dados tanto no Brasil como em outros lugares do mundo a respeito do impacto de programas (governamentais ou de startups) que relacionam diversidade e inovação prejudica o debate. A entidade também critica a falta de transparência a respeito dos dados de políticas corporativas nesse sentido.
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Para Afonso, o cenário de desconhecimento sobre o que essas políticas podem ter de impacto — especialmente, quando são bem-sucedidas — trava o debate.
“Não são só as políticas públicas. As políticas de inclusão e diversidade das startups e empresas precisam gerar indicadores e dados para que possamos entender o impacto e mostrar para as pessoas. Inclusão está relacionada diretamente com a melhora no ambiente de trabalho e também com a inovação”, argumenta o diretor presidente do Dínamo.