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Indústria de cartões cresce 36% no primeiro trimestre de 2022; retomada não mudou comportamento de compras online

Dados da Abecs mostram que, pela primeira vez, os consumidores brasileiros fizeram uma média de 100 milhões de transações com cartões por dia

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Foto: Shutterstock
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O volume de transações com cartões de crédito, débito e pré-pago, tanto presencialmente quanto remotamente, cresceu 36% no primeiro trimestre de 2022 em comparação ao mesmo período do ano passado, alcançando R$ 758,6 bilhões. Já o número de transações chegou, pela primeira vez, a 9 bilhões (praticamente 100 milhões de operações por dia). É o que mostram os dados da Abecs, associação que representa a indústria de cartões e pagamentos eletrônicos no país, divulgados nesta terça-feira (10).

Esse crescimento reflete não só o controle da pandemia mesmo frente a nova variante Ômicron, mas também uma base de comparação baixa, já que no primeiro trimestre de 2021 a mobilidade dos consumidores estava limitada pelo pico no número de casos e internações de COVID-19. O ritmo acelerado da digitalização das transações e das compras online, assim como a retomada das viagens e do setor de serviços ajudaram foram os fatores que mais impulsionaram os resultados, segundo o presidente da entidade, Rogério Panca.

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Mais uma vez, as transações e o volume de transações via cartões pré-pagos mais do que dobraram, refletindo a penetração cada vez maior dos bancos e das carteiras digitais. Foram R$ 44,6 bilhões transacionados por meio de cartões pré-pagos.

Por outro lado, os cartões de crédito e de débito continuam respondendo pela maior parte do bolo, com R$ 478,5 bilhões (42,4% de avanço frente ao primeiro trimestre de 2021) e R$ 235,4 bilhões (alta 15,2%) transacionados no período, respectivamente.

Retomada de atividades presenciais não afetou crescimento de compras remotas

Os gastos de brasileiros no exterior mais do que dobraram em janeiro e fevereiro se comparado ao mesmo período do ano passado, devido à retomada das viagens internacionais, mostram os dados do Banco Central. O volume transacionado em fevereiro, de R$ 2,17 bilhões, foi muito próximo daquele pré-pandemia — em fevereiro de 2020 foram movimentados R$ 2,5 bilhões. Os gastos de estrangeiros no Brasil também cresceram (54,5%), atingindo US$ 665 milhões.

A velocidade das compras não presenciais, no e-commerce, não desacelerou, apesar da reabertura de várias atividades devido ao arrefecimento da pandemia. As transações ditas não presenciais movimentaram R$ 162,4 bilhões de janeiro a março deste ano, uma alta de 35,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

As compras presenciais mas por aproximação aceleraram, crescendo 455,9% sobre os primeiros três de 2021, chegando a R$ 103,2 bilhões movimentados via transações com cartões aproximados de maquininhas. No bolo total, as transações por aproximação já representam 30% do total presencial. No ano passado, esse tipo de transações fechou o ano respondendo por pela menos uma em cada quatro transações presenciais.

“As transações até R$ 200 é uma experiência muito boa, pois não necessita de autenticação. A penetração das compras por aproximação no total de presenciais chegou a mais de 30%, o que mostra que estamos no caminho da projeção de ter 50% das transações ocorrendo via tecnologia NFC até o fim de 2022”, salientou Panca.

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O mais usado nessa função foi o cartão de crédito, com R$ 58,1 bilhões, seguido pelo cartão de débito, com R$ 28,4 bilhões, e pelo cartão pré-pago, com R$ 16,7 bilhões.

O nível de inadimplência ainda abaixo de anos anteriores (2,7%) e o fato de que 75% do crédito concedido via cartão não ter qualquer incidência de juros reforçam, na avaliação da entidade, a força do dispositivo como instrumento de inclusive financeira e combustível para o crescimento de setores como o e-commerce, apesar da maior cautela na concessão de cartões a novos clientes por partes dos emissores. “Percebemos muitos emissores trabalhando dentro da própria base, de olho em dados de comportamento que dão mais segurança. Ainda assim, há boas oportunidades no mar aberto [jargão do setor para oferta de serviços fora da carteira de clientes]. A taxa de juros em elevação também deixa o funding [captação de crédito] mais elevado, o que também é mais um fator de cautela”, observou Panca.

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“Por ora, também em razão do aperto monetário, continuamos estimando que a indústria de cartões atingirá R$ 3,2 trilhões em volume transacionado em 2022 [um crescimento de 21% sobre 2021 e um pouco menor do que o registrado no ano passado]”, disse Panca.

No ano passado, o crédito concedido via operação com cartão foi o que apresentou maior crescimento entre as carteiras de crédito pessoa física no Brasil, segundo dados do Banco Central reunidos pela Abecs, passando a ser a terceira maior e perdendo apenas para o crédito pessoal e o financiamento imobiliário. Foram R$ 391,8 bilhões movimentados pelo setor em 2021, mais que o dobro do que há dez anos. 

O crescimento do uso de cartões de débito em compras online (ainda longe do potencial que apresenta), assim como a contínua interiorização do acesso aos cartões e a exploração das possibilidades de criação de produtos combinados a criptomoedas, são alguns dos focos da Abecs para, talvez, levar esse crescimento para além do esperado.

Panca disse que a entidade não tem nenhum dado sobre o impacto do PIX na indústria de cartões. Em março, um artigo publicado pelo órgão que é considerado o banco central dos bancos centrais, o Banco de Compensações Internacionais (BIS), e de coautoria de economistas do BC, mostrou que PIX é “muito mais barato” para lojistas do que pagamentos com cartões. O sistema de pagamentos instantâneos teria um custo médio de 0,22% por transação para os lojistas brasileiros, enquanto os cartões de débito custam pouco mais de 1% e os cartões de crédito, 2,2%.