Superar o volume de capital injetado no ecossistema de startups da América Latina em 2021 vai ser uma tarefa difícil – pelo menos é o que a desaceleração dos investimentos sentida globalmente sugere. Em abril, as startups latino-americanas receberam “apenas” US$ 821 milhões – um volume 12% menor do que o registrado em março e 35% menor do que em abril do ano passado, quando foram investidos US$ 1.2 bilhão.
Os dados constam no novo relatório divulgado pela Sling Hub, plataforma de inteligência de dados de startups da América Latina. Os investimentos do último mês foram distribuídos em 86 rodadas, das quais 62 foram captadas por startups brasileiras: o país ficou com 46% do capital total, US$ 383 milhões.
Em seguida vieram as startups mexicanas, que com apenas 6 rodadas de investimento abocanharam 23% dos investimentos da região, US$ 195 milhões. Uma boa parte desse valor foi para a Série B da Justo, que levou o título de maior rodada do mês: um aporte de US$ 152 milhões liderado pela General Atlantic.
LEIA TAMBÉM: Fintechs brasileiras já geram mais de 100 mil empregos
No terceiro lugar do pódio, as startups colombianas garantiram investimentos de US$ 115 milhões, 14% do total aportado na região em abril. Chile, Uruguai, Peru e Argentina, juntos, receberam US$ 126,7 milhões.
Apesar da desaceleração dos investimentos, para um setor o cenário não mudou tanto assim: as fintechs continuam mantendo a lideranção na região como setor que mais captou. Foram 16 rodadas de captação que somaram US$ 318 milhões. Entre janeiro e abril de 2022, o setor captou US$ 1.9 bilhões, 45% a mais do que os US$ 1.3 bilhões recebidos nos quatro primeiros meses de 2021. Na lista das 10 maiores rodadas do mês de abril, 6 são fintechs.
As 10 maiores rodadas de abril na América Latina:
- Justo (México, Retailtech): Série B de US$ 152 milhões
- unico (Brasil, Deeptech): Série D de US$ 100 milhões
- Migrante (Chile, Fintech): Rodada de dívida de US$ 80 milhões
- Inventa (Brasil, Retailtech): Série B de US$ 55 milhões
- Treinta (Colômbia, Fintech): Série A de US$ 46 milhões
- Stark Bank (Brasil, Fintech): Série B de US$ 45 milhões
- Hurst Capital (Brasil, Fintech): Rodada de US$ 42 milhões
- Zubale (México, Retailtech): Série A de US$ 40 milhões
- Migrante (México, Fintech): Série A de US$ 30 milhões
- Minka (Colômbia, Fintech): Série A de US$ 24 milhões
Se por um lado os investidores parecem ter feito uma pausa nas super-rodadas, por outro o financiamento para startups em estágio inicial estão em um bom momento – na verdade, no seu melhor momento: abril registrou um volume de US$ 8,6 milhões em seis rodadas pré-Seed, o melhor resultado já registrado nesse estágio de investimento (e dez vezes o volume levantado em abril de 2021).
LEIA TAMBÉM: O que uma empresa quer dizer quando se declara “carbono neutra”?
Chama a atenção também que os cheques estão ficando mais volumosos também nas rodadas iniciais: de janeiro a abril de 2022, as rodadas pré-Seed movimentaram US$ 256 milhões, US$ 10 milhões a mais do que no mesmo período do ano passado, no entanto, o número de rodadas nesse estágio caiu pela metade, passando de 45 entre janeiro e abril de 2021 para apenas 20 entre janeiro e abril desse ano.
Mais dinheiro em menos rodadas significa cheques maiores. De fato, a Sling Hub apurou que o valor médio das rodadas pré-Seed saltou de US$ 325 mil para US$ 1,2 milhões. “Isso mostra que as startups estão provando melhor seus modelos de negócios antes de realizar a primeira captação. É um sinal de maturidade do mercado”, avalia João Ventura, investidor anjo e CEO da Sling Hub.
Quem levou o título de maior pré-Seed de abril foi a colombiana Morado, uma fashiontech que garantiu uma rodada de US$ 5 milhões com investidores de peso como Tiger Global, H20 Capital, A16z, QED, Village Global, e Latitude. A rodada também foi a maior do setor já registrada no país.