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Jeeves escolhe outro caminho para estrear oficialmente no Brasil: capital de giro e crédito baseado em receita

O cartão corporativo, normalmente o produto de entrada da startup, ficou para agosto. O LABS conversou com o diretor de operações no Brasil, Fernando Torres, sobre os primeiros passos da startup no país

Fernando Torres, diretor de operações da Jeeves no Brasil. Foto: Divulgação.
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Pouco mais de dois meses após o anúncio da sua Série C e sua chegada no Brasil, a Jeeves, uma startup que oferece soluções de gestão e financiamento para empresas de rápido crescimento (não só startups), começou a operar para valer no país. Diferentemente do que fez em outras regiões, onde entrou oferecendo um cartão corporativo, no Brasil a Jeeves começa a operar oferecendo dois produtos de financiamento em parceria com a sociedade de crédito direto e fintech de Bank-as-a-Service, QI Tech. “Por questões regulatórias, foi mais fácil a gente evoluir nos produtos de crédito do que no cartão nesse primeiro momento. Acreditamos que ali por agosto a gente consiga oferecer o cartão também”, explica Fernando Torres, diretor de operações da Jeeves no Brasil que já passou pelo BS2 (antigo banco Bonsucesso).

Fundada em 2019 por Dileep ThazhmonSherwin Gandhi, a Jeeves foi lançada primeiro no México, em março de 2021. Os Estados e o Canadá (segunda região da startup) vieram logo depois e quase ao mesmo tempo outros países de língua espanhola na América Latina (ColômbiaChile e Peru). Logo depois, em setembro de 2021, Reino Unido e Europa se tornaram a terceira região de atuação da Jeeves. No total, a startup já atende clientes em 24 países e quer chegar a 40 nos próximos três anos.

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Segundo Torres, uma nova lista de espera foi criada com foco especificamente nos produtos de crédito. “É uma lista pré-qualificada, então são cerca de 500 oportunidades, de fato, para gente conversar.” Após um período de testes em produção, a Jeeves começou a fazer beta testes com clientes que já atendia em outras regiões. A primeira operação de financiamento foi fechada na semana passada com a Onfly, startup de gestão de viagens de Belo Horizonte. “Estamos caminhando bem com o pipeline, sem contratempos”.

O portfólio da Jeeves é composto, basicamente, por quatro produtos: o cartão corporativo; pagamentos B2B (para qualquer pagamento sem cartão, a Jeeves oferece uma solução rápida local, via ACH nos EUA, SPEI no México e (em breve) PIX no Brasil); empréstimo para capital de giro, com prazos de 30 a 90 dias; e uma espécie de financiamento baseado em receita (a Jeeves analisa as entradas da empresa por um período, projeta a saída e antecipa parte da projeção à empresa), que pode ser pago em 12 meses. São esses dois últimos produtos que a Jeeves está lançando agora no Brasil.

O timing da estreia da Jeeves não poderia ser melhor. Alta taxas de juros – em razão da alta da inflação generalizada em todas as regiões do mundo – fizeram investidores mais cautelosos e, consequentemente, empreendedores reverem suas estratégias de crescimento. Neste cenário, não depender de rodadas de equity para pequenos movimentos e até mesmo não comprometer parte desse equity como colateral de um contrato de venture debt pode ser interessante.

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“É um cenário delicado para as startups como um todo. A Y Combinator, que é dos investidores da Jeeves inclusive, falou recentemente sobre [diante desse cenário] a necessidade de as startups olharem para margem, gerar resultado, buscar alternativas para estender o runaway [termo referente a quantos meses uma empresa pode continuar operando antes de ficar sem dinheiro] e reduzir a queima de caixa [o quanto pode usar do capital antes de gerar sua própria receita]. Nós não mudamos ou aceleramos nossos planos por conta desse cenário, mas foi uma coincidência positiva para gente”, diz Torres.

Por não exigir garantias, os dois produtos de crédito da Jeeves têm taxas de juros de 25% a 30% ao ano. A Jeeves não tem uma meta ou volume de crédito em mente para conceder. “Nós tínhamos uma ideia em mente levando em consideração o cenário anterior, mas estamos revendo esses números. O que está claro, no entanto, é que vamos investir pesado no mercado brasileiro.”

Localmente, há apenas duas pessoas na Jeeves (contando Torres). Mas novas contratações vão acontecer, principalmente nas áreas de vendas, pós-vendas, marketing e análise de crédito. A startup deve ampliar o time para até 30 pessoas em 2022.

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Em março, sem abrir números absolutos de receita, Thazhmon disse ao LABS que, desde o anúncio da Série B, em setembro do ano passado, a Jeeves havia multiplicado sua receita por dez e dobrado sua base de clientes para mais de 3 mil empresas – mais de 1 mil delas na América Latina, ainda o maior mercado da startup.

Na ocasião, o cofundador também disso ao LABS que a receita da startup nos dois primeiros meses de 2022 já havia superado todo o ano de 2021 e que a Jeeves ultrapassou US$ 1 bilhão em volume bruto anual de transações (GTV), com um crescimento médio mensal de 76% nesta métrica.

Ao pisar no maior mercado da América Latina, Jeeves também sabe que enfrentará muitos concorrentes, como as brasileiras Conta Simples e a55 e a mexicana Clara. O que empresa argumenta, no entanto, é que a maioria das concorrentes opera apenas localmente, o que significa que não acompanham a expansão regional das empresas que atendem. De fato, 60% dos clientes da Jeeves têm operações em mais de um país ou território.

Outro grande diferencial da Jeeves, reforça a empresa, é a infraestrutura própria, o que significa que a startup domina o processo de coleta e análise de dados de receita de ponta a ponta.