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Minoritários acusam operador de 'insider trading' com ações da Petrobras e acionam CVM

Movimentação suspeita aconteceu logo depois de reunião do governo federal que decidiu pela saída do presidente da empresa

Logo da estatal na sede da companhia. Foto: Reuters/Sergio Moraes
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  • Um operador comprou um volume expressivo de opções da petroleira apostando na queda dos papéis da estatal, conforme reportou em primeira mão a jornalista Malu Gaspar, colunista de O Globo;
  • Isso ocorreu depois de uma reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros, onde a saída de Roberto Castello Branco do comando da empresa teria sido decidido;
  • A operação pode ter rendido cerca de R$ 18 milhões, um volume nunca antes registrado na bolsa paulista em casos como esse.

A associação que representa investidores minoritários no Brasil, a Abradin, apresentará à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta quarta-feira uma representação pedindo a investigação de um operador que teria feito movimentação suspeita com ações da Petrobras no mercado de opções, afirmou à Reuters o presidente da entidade, o economista Aurélio Valporto.

A operação, segundo o presidente da Abradin, teria ocorrido entre uma reunião em Brasília em que se teria definido a saída do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e a indicação do general Joaquim Silva e Luna para assumir o comando da companhia.

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Um operador comprou um volume expressivo de opções da petroleira apostando na queda dos papéis da estatal, conforme reportou em primeira mão a jornalista Malu Gaspar, colunista de O Globo. Segundo Gaspar, no dia 18 de fevereiro, o presidente da República, Jair Bolsonaro, se reuniu com os ministros Bento Albuquerque, das Minas e Energia, Paulo Guedes, da Economia, Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, além de Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política, Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Augusto Heleno, da Segurança Institucional. Poucas horas depois, em sua live, o próprio Bolsonaro disse que medidas de redução dos preços dos combustíveis teriam sido discutidas nessa reunião.

A operação pode ter rendido cerca de R$ 18 milhões, um volume nunca antes registrado na bolsa paulista em casos como esse. “Já está muito claro que houve crime e tem evidências sobre isso tudo. A sociedade e o judiciário precisam entender que isso é roubo. São pessoas ganhando e, se não houver punição, a credibilidade do mercado é minada e nunca teremos nele uma fonte de financiamento do país”, disse Valporto à Reuters.

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“A operação com a opção tinha tudo para virar pó, mas quem fez isso, comprar 4 milhões de opções, sabia que ia cair mais ainda. Não há dúvidas que houve vazamento sobre a troca na Petrobras, crime de ‘insider trading’.”

As ações preferenciais da Petrobras, que operavam em baixa de 4% no meio da tarde desta quarta-feira, recuaram 22,7% desde o dia 19 de fevereiro.

A representação à CVM é um primeiro passo para uma investigação mais aprofundada sobre o caso.

A expectativa da Abradin é que o caso seja apurado e encaminhado ao Ministerio Público para um futuro oferecimento de denúncia contra o protagonista da operação.

“A CVM é o primeiro passo, até porque ela sabe de todas as operações que ocorrem na B3. Esperamos que a CVM dê uma satisfação e, se ela e o MP não fizerem nada, nós faremos na Justiça, como fizemos com o Eike”, disse Valporto.

O empresário Eike Batista, que esteve dentre os homens mais ricos do mundo, foi condenado em fevereiro pela Justiça do Rio de Janeiro a quase 12 anos de prisão por crimes no mercado financeiro. Eike pegou uma pena de seis anos e oito meses e multa de quase R$ 409 milhões pelo crime de “insider trading”. Ainda cabe recurso.

Procurada sobre a operação com opções da Petrobras, a CVM informou que “acompanha e analisa informações e movimentações envolvendo companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, sempre que necessário.”

A autarquia disse ainda que “não comenta casos específicos”. A B3 informou que também não vai se manifestar.