A Netflix anunciou na quinta-feira um reajuste de preços no Brasil, o segundo desde a chegada da plataforma pioneira do streaming no país. Segundo a empresa, o aumento permitirá que a empresa possa oferecer “uma melhor experiência para os assinantes”. Má notícia para os assinantes, boa notícia para os investidores, que já há algum tempo esperavam um movimento assim em alguns dos mercados globais da companhia.
Com o crescimento desacelerando nos Estados Unidos nos últimos anos, a Netflix passou a ver na América Latina e na Ásia a oportunidade de que precisa para crescer em volume.
O reajuste anunciado no Brasil é também sinal de que a empresa segue confiante na liderança do setor, mesmo diante do acirramento da concorrência e da chegada de novas plataformas no país. Comparativamente, a América Latina é a região que pagou o menor preço no segundo trimestre deste ano (US$ 7,50, em média).
Agora, os planos da Netflix começam em R$ 25,90 (preço do plano básico, para uma tela apenas) e vão até R$ 55,90 (custo do plano premium, para quatro telas e vídeo em ultra HD).
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Em junho, a HBO Max desembarcou no Brasil e outros territórios da América Latina e do Caribe com preços promocionais. O plano mais barato, para dispositivos móveis, custa R$ 19,95 por mês, mas quem assinar até 31 de julho pagará metade disso ao longo dos próximos 12 meses se mantiver o plano sem alterações até lá.
Em agosto, chega ao país também o Star Plus, outro serviço da Disney que vai oferecer uma gama completa de conteúdo ESPN, incluindo eventos ao vivo das principais ligas e programas de esportes; séries, comédias animadas, filmes, documentários; e produções Star originais regionais e internacionais, incluindo conteúdo exclusivo.
Por que faz sentido a Netflix reajustar seus preços
Dados de um novo indicador da consultoria Nielsen, chamado The Gauge (ou “o medidor”) mostram que os americanos assistem duas vezes mais Netflix do que Hulu, serviço da Disney que é o segundo mais usado por lá e custa US$ 11,99. Segundo a consultoria, 26% do tempo que os telespectadores americanos passaram em frente à TV em maio de 2021 foi gasto assistindo a serviços de streaming; desse total, a Netflix abocanhou 6%, Hulu 3%, e os demais serviços vieram depois.
Apesar de custar (16,7%) mais por mês, o Netflix não só tem mais assinantes (61% mais) que o segundo colocado mas também continua sendo mais usado. Analistas dizem que isso acontece não só porque a plataforma é a pioneira do setor, mas porque mantém, até hoje, características como uma boa experiência do usuário (é só olhar os problemas nos aplicativos dos concorrentes) e um ritmo intenso de lançamentos.
É nesse contexto que os investidores apostam que há espaço para novos reajustes.
Se, assim como fez no início deste ano, a Netflix aumentasse seu preço nos Estados Unidos em mais US$ 1 por mês, para cerca de US$ 15, a empresa teria uma receita adicional de US$ 800 milhões por ano. Considerando que quando aumenta preços por lá também o faz no Canadá, seriam mais US$ 100 milhões em receita anual.
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É claro que a conta não é tão simples assim, visto que a empresa também tem como meta manter sua margem operacional em 20% neste ano – em 2020, foi de 18%.
Para além dos reajustes, a empresa sabe que precisará manter aquilo que a diversificar seus negócios para compensar a desaceleração orgânica. Na última terça-feira, executivos da empresa disseram, em videoconferência sobre os resultados financeiros do segundo trimestre, que esperam conquistar 3,5 milhões de novos assinantes entre julho e setembro; um número bem abaixo das estimativas de Wall Street, que esperava 5,5 milhões. A Netflix terminou a primeira metade de 2021 com 209 milhões de assinantes no mundo – 38,66 milhões na América Latina. Um crescimento global de 8,4% sobre o ano anterior.
A empresa está de olho no mundo dos video games (incluindo produções ligadas a conteúdos originais como a série Stranger Things), no mercado de podcasts (depois do vídeo, o áudio, por que não?), e também nas vendas de produtos originais em geral (neste caso, como estratégia de fidelização de sua base).
Ainda neste mês, a Netflix anunciou o ex-executivo do Facebook Mike Verdu como vice-presidente de desenvolvimento de jogos. Verdu vai responder diretamente ao diretor de operações Greg Peters.
Netflix tem um terço da audiência de streaming no Brasil
Dados do JustWatch sobre o desempenho das plataformas de streaming no Brasil no segundo trimestre deste ano mostram que a Netflix continua na frente por aqui, levando 31% da audiência de streaming. A margem sobre o segundo maior concorrente, o Prime Video, da Amazon, é de 7%.
Já a Disney Plus, que estreou no Brasil há apenas há pouco mais de seis meses, já alcançou a metade do tamanho da Prime Video. Globoplay, HBO Go (os dados são de antes da estreia da HBO Max) e Telecine Play ficaram no páreo pelo terceiro lugar, com 6% a 8% da audiência.