A Flourish Fi, plataforma white label cofundada pelo brasileiro Pedro Moura e que usa gamificação e ciência comportamental para capacitar financeiramente usuários de bancos e fintechs, foi selecionada para a nova rodada do Start Path, programa global de “engajamento com startups” da Mastercard. Outra brasileira, a Swap, que capacita e auxilia empresas de vários na incorporação de serviços financeiros, também está no programa.
Desde a fundação do Start Path, em 2014, a Mastercard já forneceu orientação e acesso ao seu ecossistema para mais de 260 startups, que, juntas, levantaram coletivamente mais de US$ 5 bilhões em capital. De maneira geral, “orientação e acesso” significa não só mentoria e contatos comerciais, mas também co-criação de produtos e serviços, acordos de distribuição de produtos, acesso à comunidade de desenvolvedores desse ecossistema e seus mais de 100 APIs, entre outras possibilidades. Em contrapartida, a Mastercard também tem acesso a uma série de inovações para acelerar seu novo posicionamento como uma empresa de tecnologia de pagamentos, indo muito além do cartão.
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Segundo Moura, cofundador da Flourish, a fintech preenche um pedaço do quebra-cabeça comportamental e de educação financeira que a Mastercard e seus parceiros precisam para navegar nas possibilidades do open finance, que está trazendo uma série de novos clientes ao sistema financeiro. “Foram cerca 40 milhões no Brasil [de pessoas acessando uma conta digital pela primeira vez, em razão dos auxílios emergenciais]. Tem outro dado que são os mais de 34 milhões de empregos perdidos durante a pandemia. A inclusão aconteceu durante a pandemia, nesse cenário, mas agora que as pessoas estão voltando a trabalhar, terão os bancos e as instituições financeiras as ferramentas necessárias para engajá-las, para criar hábitos financeiros e para estimulá-las a realmente utilizar essas contas?”, questiona Moura, se referindo a um desafio comum a toda a América Latina.

Thiago Dias, vice-presidente de fintechs e habilitadores na América Latina e no Caribe, disse ao LABS que a seleção da Flourish no programa tem a ver não só com pilares como educação financeira e inovação, mas com prosperidade digital. “Inclusão financeira não é só abrir uma conta digital e receber um cart˜ão pré-pago em casa. Vai muito além disso. Está muito mais relacionado com o quanto que você entende o valor que os serviços financeiros digitais adicional para a sua vida e o quanto você é capaz de prosperar ao utilizá-los”, pontua Dias.
Segundo ele, a presença das startups latino-americanas está cada vez maior no programa. Desde o início do Start Path, 21 latinas já passaram pelo programa. “Nesse mundo das fintechs, as fronteiras não são mais um limite (…) O Brasil acaba tendo um destaque maior pelo tamanho e pela base de startups existentes, além de um ecossistema mais desenvolvido, onde a informação chega mais rápido. Mas temos players que vieram da Colômbia, da Argentina, do Chile e do México. De maneira geral, são esses cinco maiores mercados que lideram em termos de inscrições e participantes.”
Com sede em Berkeley, nos Estados Unidos, a Flourish foi fundada em 2018 por Moura e pela norte-americana com ascendência filipina e mexicana Jessica Eting. Eles receberam uma rodada semente de US$ 1,5 milhão liderada pela Canary em março deste ano e, desde então, vêm anunciando parcerias relevantes na América Latina.
A primeira no Brasil, com a Focus Financeira, empresa que oferece crédito para pessoas físicas e jurídicas e que é um spin-off da Focus Energia, começou em setembro e é um bom exemplo de como a Flourish funciona.
Clientes que mantêm os pagamentos em dia e completam os desafios personalizados no app da Focus podem ser premiados com vale-presentes do Uber e UberEats, além de participar de um sorteio de R$ 10 mil todos os meses. A intenção é estimular os clientes a desenvolver hábitos financeiros saudáveis. Com o tempo, a recompensa por isso pode resultar na oferta de novas linhas de crédito da Focus, com taxas menores baseadas no perfil financeiro do usuário. O BancoSol, um dos maiores bancos de microcrédito da Bolívia, também é cliente da Flourish.
Segundo Moura, a fintech deve anunciar nas próximas semanas um novo parceiro: um banco de uma das maiores redes varejistas da América Latina. Também em breve, no segundo trimestre de 2022, a Flourish pretende anunciar uma nova rodada de investimentos.
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Como funciona o Start Path, o programa global de startups da Mastercard
Entre algumas das empresas que já passaram pelo Start Path estão as brasileiras RecargaPay, fintech de pagamentos móveis que recentemente captou recursos para oferecer microcrédito, e idwall, startup brasileira de autenticação e segurança digital que levantou em junho uma Série C de R$ 210 milhões, além do Revolut, maior banco digital britânico avaliado em mais de US$ 33 bilhões.
O Start Path é um dos quatro programas englobados pela Mastercard Accelerate, iniciativa global de cooperação com fintechs da companhia lançado em 2019. Há também o Mastercard Fintech Express (uma espécie de conjunto de regras, recursos e serviços que oferecem uma rota rápida de expansão para fintechs, principalmente no que diz respeito à emissão de cartões, como Ualá e C6 Bank fazem), o Mastercard Engage (que promove a conexão das fintechs com parceiros de tecnologia e habilitadores de pagamentos da rede) e o Mastercard Developers (que dá acessos às APIs da companhia a engenheiros e desenvolvedores das fintechs).
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As inscrições para o Start Path estão sempre abertas. A cada três meses é feito um recorte de seleção que a Mastercard chama de “onda”. Cada onda de seleção de startups do Start Path passa mais ou menos por 500 startups candidatas, das quais 10 a 12 serão selecionadas. Entre os critérios, a Mastercard busca startups já operacionais, com produtos rodando e clientes.
Ao longo de seis meses, as startups têm acesso às diferentes iniciativas da Mastercard, de apoio no desenvolvimento de produtos ã apresentação a parceiros do ecossistema. Atualmente, a Mastercard está olhando cinco grandes verticais: onboarding digital e verificação de identidade, acesso a crédito, gestão financeira, experiência do cliente e novas avenidas de crescimento e rentabilidade.”Um caso muito interessante [desse último vertical] é a Aper, empresa argentina/colombiana oferece marketplace as a service, com ela qualquer fintech ou instituição financeira consegue lançar um marketplace muito rapidamente. É só ver o que o Inter e o C6 Bank têm feito com essa solução”, exemplifica Dias.