Sociedade

Após caso de agressão que levou homem negro à morte em uma de suas lojas, Carrefour Brasil anuncia medidas

Após leve alta na última sexta, Dia da Consciência Negra e do caso, as ações da empresa caíram 5,35% na segunda-feira. Especialistas criticam a "demora" dos investidores em reagir ao episódio

Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
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  • João Alberto Freitas, um homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte no estacionamento de uma das lojas da rede de supermercados em Porto Alegre;
  • O caso desencadeou protestos contra racismo com a mesma frase usada após a morte do americano George Floyd: “Vidas Negras Importam”.

As ações do Carrefour Brasil sobem 0.37%, em uma sessão volátil, nesta terça-feira (24) à tarde, após o grupo ter anunciado a criação de um fundo contra o racismo, entre outras medidas, como reação a um episódio violento que levou à morte de um cliente negro em uma das lojas da companhia na semana passada.

João Alberto Freitas, um homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte no estacionamento de uma das lojas da rede de supermercados em Porto Alegre. O caso é emblemático, aconteceu no Dia da Consciência Negra no Brasil (20 de novembro), e desencadeou uma série de protestos contra o racismo, com participantes entoando “Vidas Negras Importam” (Black Lives Matter), além de pedidos de boicote. Após uma leve alta ainda na sexta-feira, dia do episódio; na segunda-feira, os papéis da companhia tiveram queda de 5,35%. 

O atraso na reação dos investidores gerou fortes discussões sobre a ESG (Environmental, Social and corporate Governance) no país, especialmente sobre as práticas sociais das empresas, mostrou o Nexo Jornal. Ao Estado de São Paulo, o economista Pedro Fernando Nery disse que a leitura inicial do mercado para o caso do Carrefour parece ser de que a sociedade não se importa com a violência racial. 

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No Twitter, o co-fundador e gerente de portfólio da Fama InvestimentosFabio Alperowitch, criticou a falta do critério ESG no caso do Carrefour. Para ele, a presença do critério nos materiais de apresentação da empresa são apenas fachada.

O blog Radar Econômico noticiou que investidores disseram que a valorização das ações do Carrefour na sexta-feira (20) se deu em razão da percepção de que a defesa do Carrefour teria maior solidez em razão dos antecedentes criminais que a vítima apresentava. Mas, a sessão da bolsa de valores de segunda-feira teria mostrado um revés nesse pensamento. Na segunda-feira, o papel do Carrefour Brasil chegou a valer R$ 19,30, o pior desempenho entre as ações do índice brasileiro Ibovespa

Os papéis tiveram leve recuperação nesta terça após divulgação de fato relevante em que o Carrefour Brasil voltou a afirmar que lamenta profundamente o assassinato de João Alberto Silveira Freitas e que está apurando todos os fatos e tomando providências, incluindo a criação de um fundo para combater o racismo.

“A companhia não compactua com esse tipo de atitude e está adotando todas as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos nesse ato criminoso”, afirmou a empresa em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Entre as medidas tomadas após a morte de Freitas, a companhia afirmou que vai criar um fundo para promover a inclusão racial e o combate ao racismo, com aporte inicial de R$ 25 milhões. O Carrefour Brasil também disse que tem trabalhado “diariamente a cultura do respeito e valorização de todas as pessoas”. A empresa anunciará na quarta-feira compromissos e o plano de ação que nortearão o fundo.

A rede prometeu reverter o resultado de lojas do Carrefour Brasil apurado no último dia 20 a projetos de combate ao racismo no país.

Segundo a companhia, que também é dona da rede de atacarejo Atacadão, todas as lojas Carrefour no Brasil tiveram abertura adiada em duas horas no sábado passado, para que a empresa “pudesse, mais uma vez, reforçar o treinamento com colaboradores próprios e funcionários terceiros”.

Leia a nota completa assinada por Sébastien Durchon, Diretor Vice-Presidente de Finanças e Diretor de Relações com Investidores Grupo Carrefour Brasil, divulgada aos acionistas nesta terça-feira (24), abaixo:

O Grupo Carrefour Brasil lamenta profundamente o ocorrido e está em contato com a família do Sr. João Alberto para dar todo suporte necessário. A Companhia não compactua com esse tipo de atitude e, como mencionado acima, está adotando todas as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos nesse ato criminoso. Além disso, foi rescindido o contrato local com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. Diante do lamentável episódio, além das medidas citadas acima, todo o resultado de lojas Carrefour no Brasil na última sexta-feira, 20 de novembro de 2020, será revertido para projetos de combate ao racismo no país, conforme orientação de entidades reconhecidas na área. Essa quantia obviamente não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar a evitar que isso se repita. Além disso, todas as lojas Carrefour tiveram sua abertura adiada em duas horas no sábado, dia 21 de novembro de 2020, para que a Companhia pudesse, mais uma vez, reforçar o treinamento com colaboradores próprios e funcionários terceiros. O Grupo Carrefour Brasil reforça que tem trabalhado diariamente a cultura do respeito e valorização de todas as pessoas e, como alguns exemplos de ações afirmativas, podemos destacar: (i) a existência de um grupo de afinidade racial Ubuntu (GARU) para dialogar sobre a equidade racial; (ii) treinamentos de líderes em diversidade e inclusão; (iii) parcerias para atração de pessoas negras para o mercado de trabalho; (iv) existência da uma política de valorização da diversidade desde 2012; e (v) a participação – 2 – em fóruns e iniciativas locais e internacionais com direitos humanos. Além disso, vale destacar a diversidade do quadro de funcionários do Grupo Carrefour Brasil, onde mais de 58% dos colaboradores e 39% da liderança se autodeclaram pretos ou pardos, refletindo em grande parte a própria estrutura da sociedade brasileira. Por fim, o Grupo Carrefour Brasil anunciou na data de ontem a criação de um fundo para promover a inclusão racial e o combate ao racismo, com aporte inicial de R$ 25 milhões pela Companhia, que está trabalhando em um conjunto adicional de ações e iniciativas em prol da cultura do respeito e da diversidade, que serão oportunamente anunciadas para a sociedade e o mercado em geral. O Grupo Carrefour Brasil continuará acompanhando os desdobramentos do caso e oferecendo todo suporte para as autoridades locais, e reforça seu compromisso de transparência na divulgação de informações a seus acionistas, investidores e ao mercado em geral.