Sociedade

Brasil foi país que menos adotou home office durante a pandemia na América Latina

Pesquisa da Organização Internacional do Trabalho mostrou que país está bem atrás dos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai quando se trata da adoção do trabalho remoto

Emprego informal aumenta no Brasil durante pandemia
Foto: Roberto Herrera Peres/Shutterstock
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Uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre como a pandemia de COVID-19 impactou o mercado de trabalho mostrou que cerca de 23 milhões de trabalhadores da América Latina e do Caribe passaram a realizar suas atividades de casa durante o pior momento da crise sanitária, no segundo semestre do ano passado. 

De acordo com a OIT, entre 20% e 30% das pessoas assalariadas puderam trabalhar de casa durante a vigência de medidas restritivas mais rigorosas. Antes da pandemia, o percentual de trabalhadores em home office na região não chegava a 3%. 

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O Brasil, no entanto, registrou um dos menores percentuais de trabalhadores em home office durante os piores meses da pandemia, bem atrás dos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. Segundo o relatório, o país chegou a registrar 16% da força de trabalho assalariada em home office entre abril e junho do ano passado, percentual que cai a 13% quando se considera todos os brasileiros ocupados (incluindo os trabalhadores informais e autônomos).

Outro recorte oferecido pelo levantamento da OIT é em relação aos assalariados da iniciativa privada e os servidores públicos no Brasil. Entre os trabalhadores do primeiro grupo, o percentual que pôde trabalhar de casa foi de 11,4%; já entre os do segundo grupo, o percentual sobe para 24,6%.  

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Para efeito de comparação, entre os países latino-americanos observados no estudo o Peru, cujos dados disponíveis não diferem assalariados de informais e autônomos, chegou a ter 30% de seus trabalhadores em home office. Na Argentina, esse percentual chegou a 26% e no Uruguai a 23%; já no Chile e na Costa Rica, o contingente de trabalhadores realizando suas atividades de casa atingiu picos de 22% da população ocupada.

O relatório destaca ainda que “os trabalhadores informais, autônomos, jovens, com menor qualificação e com baixos rendimentos, que experimentaram as maiores perdas de empregos e nas horas trabalhadas, principalmente no primeiro semestre de 2020” tiveram muito menos acesso ao teletrabalho em todos os países observados. 

Futuro do trabalho

A crise sanitária acelerou a adoção do teletrabalho, que já dava sinais de ser uma tendência para o futuro do trabalho. A análise da OIT afirma que embora o teletrabalho já existisse antes da pandemia, abrangia principalmente os trabalhadores autônomos ou em situações especiais e era combinado com o trabalho presencial, “mas no contexto da quarentena passou, em muitos casos, a ser a modalidade exclusiva de trabalho ”.

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“O teletrabalho ajudou a amortecer os impactos negativos da crise nos mercados de trabalho e a preservar milhões de empregos. Após a recuperação, vai continuar a ser uma opção e a gerar novas oportunidades”, disse Vinícius Pinheiro, diretor da OIT para América Latina e Caribe.

Nesse sentido, o relatório destaca que os países devem olhar com atenção para questões relativas à seguridade social, cumprimento das jornadas de trabalho, liberdade sindical, acesso à formação profissional, saúde e segurança no trabalho, para avançar na regulamentação do teletrabalho.