Aos poucos, mas com consistência, a Endeavor Brasil, braço local da rede global de empreendedorismo, está conseguindo avançar nas metas que traçou para combater a falta de diversidade no ecossistema brasileiro.
Em 2020, a organização começou a enfrentar o problema da falta de diversidade no ecossistema de inovação de dentro para fora, traçando objetivos internos para aumentar a representividade de grupos minoritários no time da organização, na ocasião em 30%. A entidade fechou a primeira metade de 2021 com 38%.
“Ainda em 2020, trabalhando com os canais que já tínhamos, trazendo mais empreendedoras e mentoras para a nossa rede, percebemos que precisávamos de mais dados e em outubro de 2020 começamos a coletar informações para um censo da nossa rede”, relata Renata Mendes, diretora de relações institucionais e governamentais da Endeavor Brasil, para o LABS.
“Terminamos a coleta no início do ano passado e por volta de março de 2021, analisando os dados, percebemos que além do gap de representatividade de mulheres na rede [no time esse gap não existia, com 55% da organização composto por mulheres], havia também um desafio grande de participação de pessoas negras, tanto na rede quanto no time. Ao longo de 2021 trabalhamos não só nas ações de recrutamento e seleção desses públicos para o time, mas também uma série de ações na nossa rede. Embora a gente tenha percebido a necessidade de ações para continuar incluindo pessoas do público LGBTQIA+, pessoas com deficiência, e outros grupos, decidimos escolher dois públicos de forma objetiva.”
Além da relização do Censo, a Endeavor contratou, em 2021, uma especialista em diversidade e inclusão, lançou, em parceria com o Distrito e a B2Mamy, o estudo Female Founders e integrou Robson Privado, COO e co-fundador da MadeiraMadeira como membro conselho da Endeavor no Brasil. O executivo tem como sua agenda pessoal o fomento à formação de mais pessoas negras no ecossistema empreendedor.
Percebendo que se tratava de um problema estrutural, ainda no segundo semestre do ano passado, a organização anunciou a meta de alcançar 40% de representatividade de gênero e raça em toda a sua rede no Brasil até 2025.
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Por ora, a Endeavor Brasil vem trabalhando para atrair e incentivar a participações de grupos minotários na entidade, mas não desenhou iniciativas exclusivas para esses públicos. “Em 2021 nós conversamos com 17 organizações sobre isso. Há prós e contras de se lançar programas exclusivos. Por ora, a gente entende que está conseguindo trazer essas pessoas para dentro do nosso programa, buscando meios para isso e aprendendo todos os dias”, frisa Mendes. “A gente tem diferentes frentes para isso, começando pela comunicação dos programas. Provocamos lideranças femininas, pedimos que organizações, empreendedores e a rede nos indiquem cases de pessoas negras, entre outras ações. Ou seja, usamos a rede para fazer essa mensagem chegar a quem interessa e trazê-las para perto.”
Ela conta que a Endeavor também discutido o apoio a iniciativas exclusivas de outras organizações para que o ecossistema tenha startups diversas em todas as fases de crescimento.
O trabalho em prol da diversidade também virou prêmio para as empresas apoiadas pela organização. Diferentemente do programa de scale-ups, os empreendedores Endeavor passam por uma seleção mais longa e são apoiados por anos pela entidade.
Em 2020, cinco empresas de empreendedores Endeavor foram reconhecidas pelas boas práticas de diversidade e inclusão. No ano passado, 20 dessas empresas – um terço do total – se inscreveram para concorrer ao Prêmio Grandes Exemplos 2021. Considerando as iniciativas e projetos estruturados interna e externamente e o quanto a empresa é referência para outras organizações, a vencedora foi a HRTech Gupy.
As metas de diversidade e os avanços, dentro e em torno da Endeavor Brasil
Pessoas negras
No início de 2021, 14% das pessoas do time da Endeavor Brasil eram negras. Ao fim do ano, essa proporção avançou para 20%, e a ideia que a organização feche o primeiro semestre de 2022 com 28%.
“O que a gente sabe que foi fundamental para mudar a forma como o time opera foi apostar no conhecimento, no letramento da equipe. Nós fizemos sete encontros só no segundo semestre do ano passado, sempre com a participação de pelo menos 70% do time. Medimos também, a partir de julho, quantas pessoas diziam ter conhecimento para discutir temas como assédio, machismo, educação antirracista, linguagem neutra, entre outros. Se no começo 49% do time se sentia à vontade e confiante para discutir esses temas, a gente fechou ano com 65%. Esse foi avanço muito importante porque todos somos agentes multiplicadores dessas pautas”, explica Mendes.
A organização ainda está levantando os números atualizados da presença de empreendedores negros entre aqueles apoiados pela Endeavor – eles eram 18% do total no início de 2021 – e também na rede como um todo, que no início do ano passado estava em apenas 8%.
No caso das scale-ups aceleradas nos programas da Endeavor Brasil, o dado sobre proporção de fundadores negros só começou a ser coletado no segundo semestre ano passado, quando essa proporção estava em 14%. “Ainda não temos os números fechados da próxima seleção, que deve ser anunciada agora em março, mas já sabemos que essa proporção cresceu. A ideia é fazer o mesmo que fizemos com female founders e ir acompanhando esses dados semestralmente”, diz a diretora de relações institucionais da Endeavor Brasil.
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Mulheres
No início de 2021, 23% das scale-ups aceleradas pela Endeavor Brasil tinham mulheres como fundadoras. No meio do ano, essa proporção chegou a 27% e no fim de 2021, a 36%. Em média, a Endeavor Brasil acelera cerca de 200 empresas por ano. Em 2021, foram 310.
“Um dado muito interessante disso, e que nos deixou muito felizes, foi que 95% das fundadoras que passaram pelos nosso programa de scale-ups em 2021 afirmaram que ele foi muito relevante e decisivo para a jornada de crescimento dos negócios que elas estavam liderando”, ressalta Mendes.
Assim como no caso da participação das pessoas negras, uma atualização do número de empreendedoras entre os Empreendedores Endeavor, assim como da proporção de mulheres da rede da organização ainda está em levantamento. No início de 2021, as empreendedoras apoiadas pela entidade respondiam por 15% do total e a representividade das mulheres na rede como um todo, o que engloba mentores, embaixadores e conselheiros, era 17%.