A falta de acesso a celular e internet impactou diretamente o acesso de famílias brasileiras mais pobres ao auxílio emergencial pago pelo governo federal durante a pandemia.
Segundo um estudo do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV/CEMIF), a exclusão digital prejudicou 20% dos entrevistados das classes sociais D e E, que não conseguiram receber o auxílio por não possuírem um celular.
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O levantamento mostra ainda que, entre os mais pobres, 22% não conseguiram o benefício por causa de acesso precário à internet e 28% por não ter conseguido usar o aplicativo da Caixa Econômica Federal. As classes sociais foram divididas em AB, C e DE com base na classificação econômica da Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa (Abep).
Brasileiros das classes D e E que não conseguiram receber o auxílio emergencial:
- Não conseguiu usar o app da Caixa – 28%
- Não sabia baixar o app no celular – 18%
- Falta de memória no celular para baixar apps – 23%
- Acesso precário à internet – 22%
- Não tinha celular – 20%
- Solicitação não foi aprovada ou ficou em análise – 65%
- Outro motivo – 38%
A exclusão digital prejudicou menos o acesso ao auxílio emergencial nas classes AB e C: a falta de acesso a um smartphone, por exemplo, afetou três vezes mais as classes D e E em comparação com o total de pessoas que não conseguiram o benefício por esse motivo (20% vs 7%). O mesmo com acesso precário à internet, que afetou 22% dos solicitantes das classes D e E, e 9% do total de solicitantes.
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“O pagamento do auxílio emergencial escancarou velhos conhecidos da realidade brasileira. A histórica desigualdade socioeconômica espelha diversas “outras desigualdades”, como é o caso da exclusão digital. A maior parte das 47 milhões de pessoas que não utiliza a internet pertence à classe DE. A formulação e implementação de políticas públicas precisa levar a realidade da baixa renda em consideração, sob pena de não atingir seus objetivos ou promover mudanças “para pior,” diz a pesquisa.
O estudo se baseou nos dados coletados pelo painel TIC COVID-19, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, referentes a julho e agosto do ano passado, e em entrevistas realizadas pela FGV/CEMIF. A análise desses dados foi divulgada apenas agora.