Já ha algum tempo os aplicativos de delivery viraram febre, mas também alvo de críticas pelas condições de trabalho oferecidas aos entregadores parceiros. Em entrevista à revista Exame, Diego Barreto, diretor financeiro (CFO) do iFood, delivery pioneiro na área de alimentação, tocou nessa ferida e falou sobre o programa de benefícios recentemente lançado pelo app.
Como bem coloca a publicação, os entregadores fazem parte de uma massa de “trabalhadores da internet”, que cresceu também no Brasil em função da crise financeira dos anos anteriores. São pessoas que vivem na informalidade, sem direitos trabalhistas e que se arriscam, trabalhando mais horas do que deviam e em condições, por vezes, perigosas.
Em outubro, o iFood lançou um programa de benefícios. O “Delivery de Vantagens” oferece cursos de administração e finanças pessoais para entregadores, além de um seguro de vida para acidentes de trabalho.
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À Exame, Barreto explicou que a oferta de um programa de benefícios agora faz parte da jornada natural de crescimento do aplicativo. Para ele, não fazia sentido, lá no início, quando o app só conectavas restaurantes a consumidores, ter algo assim.
“Assim como a empresa aprendeu nos últimos oito anos a como ser um melhor parceiro para os restaurantes, agora estamos desenvolvendo outro parceiro, que são os entregadores — e assim continuará com os próximos parceiros que eventualmente vierem”.
Segundo Barreto, o iFood tem hoje 83.500 entregadores diretamente vinculados app. Eles respondem por 20% das 20 milhões de entregas mensais, que são complementadas com os entregadores dos próprios restaurantes. “Em 12 meses, chegamos a 4 milhões de entregas próprias por mês, de um total de 20 milhões de entregas que o iFood faz como um todo, segundo dados de setembro. (…) E com isso, veio essa nossa consciência de como estruturar melhor esse pedaço cada vez mais importante da cadeia”, disse ele.
Barreto lembrou que há vários perfis de entregadores trabalhando com o iFood: desempregados que veem no app uma tábua de salvação; trabalhadores ou empreendedores que complementam a renda com o serviço; e outros que trabalham para mais de um tipo de plataforma para formar uma fonte de renda no fim do mês.
Questionado sobre as críticas que os delivery estão recebendo, por faturar alto e ter pessoas em condições de trabalho desfavoráveis, Barreto respondeu: “Primeiro, eu não concordo com essa visão. Se você tomar como exemplo um entregador que dedica oito horas de trabalho diário e multiplicar isso pelo valor da hora que se ganha como entregador, esse valor seria superior ao salário mínimo do Brasil. É difícil acreditar que há mais de 80.000 entregadores ligados a uma plataforma se a relação entre nós e o entregador é ruim.”
E sobre o programa de benefícios, foi taxativo: “No fim, não estou fazendo algo para retê-los, mas para deixar na sociedade. Porque o perfil desse entregador é de uma visão autônoma: amanhã ele pode estar dirigindo carro, sendo encanador, prestando qualquer outro serviço que julgue mais rentável. Mas não foi uma limitação financeira que nos impediu de introduzir esses benefícios antes. (…) Não é como a indústria bancária que já existe há décadas. Nós e as empresas desse setor estamos errando, acertando, tudo faz parte de um processo de entendimento estrutural.”