Os eleitores chilenos estão divididos sobre o que querem para o futuro, às vésperas de uma histórica eleição presidencial no domingo entre dois candidatos polarizados — um que oferece mudanças sociais e outro que promete lei e ordem.
A eleição colocará frente a frente o ultra-conservador José Antonio Kast e o candidato de esquerda Gabriel Boric, após as campanhas terminarem esta semana, quando eles tentaram ganhar o voto dos moderados que pode fazer a diferença em uma disputa apertada.
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“O que está em jogo agora é a própria democracia do Chile“, afirmou a dona de casa Julia Acevedo, 80, que compareceu ao encerramento da campanha de Boric na capital. “O país precisa de mudança e ele, que é jovem, pode fazer a diferença.”
Apoiadores de Kast, por outro lado, querem estabilidade. Eles dizem que Boric — que critica o modelo econômico liberal do Chile por alimentar a desigualdade — vai desfazer décadas de crescimento e estabilidade.
“O Chile precisa de estabilidade, ordem e segurança”, disse Angela Marambio, 53, que afirmou ter apoiado um candidato de centro-direita no primeiro turno, em novembro, mas que mudará seu voto para Kast no segundo turno.
Linha da pobreza
Apesar de ser adovgado, Kast defendeu o legado econômico do ditador Augusto Pinochet, cujo sangrento regime militar entre 1973 e 1990 depôs Salvador Allende em um golpe e estabeleceu o modelo econômico do país.
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Grandes protestos eclodiram em 2019 contra esse modelo, que muitos veem como o motivo para problemas que vão desde as baixas aposentadorias privadas e preços altos na saúde e educação.
Cristian Morales, 51, autoridade pública de Punta Arenas, no sul do Chile, região natal de Boric, disse que o candidato de esquerda poderia finalmente mudar as coisas.
“Não acredito que ele conseguirá fazer todas as mudanças que são necessárias, mas irá acelerar o processo”, afirmou Morales, citando planos para gastos com aposentadorias e educação.
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Boric, que fez seu nome liderando manifestações estudantis por uma educação de melhor qualidade, buscou canalizar a energia e cobranças por mudança que resultaram nos protestos de 2019 no Chile.
Os apoiadores de Boric dizem que ele defenderá assuntos como os direitos das mulheres ao aborto — permitido atualmente apenas em algumas circunstâncias — e respeitará a diversidade sexual, sob os holofotes após o país aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo este mês.
Kast critica tanto o aborto quanto o casamento gay.
“Tenho medo de Kast”, disse Andrea Ramírez, administradora pública de 26 anos. “Ele me preocupa em relação ao meio-ambiente, ao papel do Estado, à aposentadoria dos chilenos. E que direitos as mulheres terão?”