Sociedade

Ritmo de vacinação nas três maiores economias da América Latina segue lento

Em números absolutos, Brasil está na frente, mas não proporcionalmente à população adulta. México e Argentina, parceiros diretos na vacinação, têm campanhas ainda mais travadas

frasco da vacina da Pfizer
Frasco da vacina da Pfizer/BioNTech, durante vacinação de atletas olímpicos no Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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  • A corrida não é só para a retomada da economia, mas para proteger a população de variantes perigosas e já em circulação;
  • A emergência sanitária se materializou como a pior crise econômica, social e produtiva da região nos últimos 120 anos, o que também, em certa medida, dificulta a negociação para obtenção de mais imunizantes.

Fator crucial para a recuperação econômica da América Latina, a vacinação contra a COVID-19 segue em ritmo lento na região. Entre as três maiores economias (sem contar a Venezuela), o Brasil é o que aplicou o maior número absoluto de primeiras doses (38,2 milhões), mas proporcionalmente campanha de imunização está lenta: apenas 23.8% da população adulta recebeu a primeira dose, e 11,80% a segunda, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa formado por Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1. México e Argentina, parceiros diretos na luta contra a COVID-19, também precisam acelerar o passo da imunização contra a doença. A corrida não é só para a retomada da economia, mas para proteger a população de variantes perigosas e já em circulação.

No Brasil, a falta de insumo farmacêutico ativo (IFA) paralisou a produção da CoronaVac pelo Instituto Butantan, parceiro local da Sinovac. A FioCruz, que produz o imunizante da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, passa pelo mesmo problema, apesar de ter conseguido aumentar gradualmente a fabricação da vacina nos últimos meses. Os insumos vêm, respectivamente, da China, com quem as relações estão estremecidas, e da Índia, que passa por um momento difícil da pandemia o que também afeta sua capacidade de exportação de insumos e vacinas.

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Ainda nesta semana, o governo federal assinou um acordo para a compra de mais 100 milhões de doses da Pfizer-BioNTech, mas a maior parte desse lote só deve chegar ao país a partir de outubro. Em março, o governo fechou o primeiro acordo, também de 100 milhões de doses do imunizante da empresa, sendo 15,5 milhões para segundo trimestre, e cerca de 86 milhões para o segundo semestre.

O vai-e-vém das negociações entre a administração de Jair Bolsonaro e o laboratório americano foi um dos principais temas da CPI da COVID-19. O gerente-geral da Pfizer, Carlos Murillo, disse na quinta-feira (13) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado que, entre maio de 2020 e fevereiro deste ano, o laboratório fez cinco ofertas ao governo brasileiro, que, por diversas vezes, ou ignorou as ofertas ou as negou. Ainda em fevereiro, a vacina da Pfizer foi a primeira a obter registro definitivo na Anvisa.

O imunizante da Janssen obteve autorização para realizar testes de fase 3 no país. Já a vacina russa Sputnik V teve o pedido de importação excepcional negado pela Anvisa semanas trás. Mais de 14 estados estavam negociando a importação da vacina. O Grupo União Química, parceiro brasileiro do Fundo Russo de Investimento Direto que financiou o desenvolvimento e produção do imunizante pelo Instituto Gamaleya, já começou a produzir um lote-piloto do imunizante no país e espera obter o registro para uso emergencial junta à Anvisa “nas próximas semanas”.

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O México, segunda maior economia da região, administrou 22,4 milhões de doses, imunizando 13 milhões de pessoas. O governo previa vacinar quase 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos e todo o pessoal de saúde antes do final de março, mas os prazos foram estendidos até maio. As vacinas mais utilizadas no país até o momento foram Pfizer, CoronaVac e Oxford-AstraZeneca. No caso da Pfizer, há um contrato de 34,4 milhões, mas só pouco mais de 7 milhões chegaram ao México.

Em agosto do ano passado, o país assinou um acordo com a Argentina e a Fundação Carlos Slim para a distribuição de 150 a 250 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca para a América Latina, 77,4 milhões só para o México. Os Estados Unidos também enviaram mais 2,7 milhões de doses do imunizante ao país, que também tem doses contratadas de mais duas vacinas: Sputnik V e CanSino.

Já a Argentina aplicou pouco mais de 9,8 milhões de doses até o momento, tendo inoculado 7,9 milhões de adultos com a primeira dose. Desde que lançou seu plano de imunização contra a COVID-19, no final de dezembro de 2020, a Argentina recebeu mais de 12 milhões de doses de diferentes laboratórios.

Desse total, 6,5 milhões de doses são da vacina Sputnik V, 4 milhões da Sinopharm, 1,5 milhão da Oxford-AstraZeneca (sendo pouco mais de 1 milhão doses recebidas via COVAX).

Ainda no fim de abril, Ciro Ugarte, diretor de emergências em saúde da Organização Pan-Americana da Saúde OPAS/OMS, disse que a América Latina e o Caribe precisam buscar financiamento e novos acordos para suprir a necessidade de vacinas. “A América Latina e o Caribe precisam de mais vacinas, são 7 milhões de doses via Covax para a América Latina e o Caribe, mas a necessidade é muito maior, pois muitos países não podem contar com parcerias com laboratórios”, disse ele na ocasião. A emergência sanitária se materializou como a pior crise econômica, social e produtiva da região nos últimos 120 anos, o que também, em certa medida, dificulta a negociação para obtenção de mais imunizantes.