- A vacina russa será comercializada com o nome ‘Sputnik V’ em mercados estrangeiros;
- Acordos internacionais foram firmados para produzir 500 milhões de doses anuais, inclusive no Brasil;
- A aprovação da vacina pelo ministério da saúde da Rússia vem antes do início de um estudo maior envolvendo milhares de participantes, um aspecto que levanta preocupações entre os cientistas.
Kirill Dmitriev, chefe do fundo soberano da Rússia, disse nesta terça-feira que a vacina contra COVID-19 anunciada recentemente por Moscou deve ser produzida no Brasil. A vacina russa, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, foi recebida com suspeita entre alguns especialistas, devido à velocidade com que passou em testes humanos.
No entanto, Dmitriev acredita que a produção na América Latina deve começar em novembro, dependendo da aprovação regulatória. O governo do Paraná demostrou interesse em assinar um acordo para produzi-la, disse nesta terça-feira o chefe do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), após o anúncio da Rússia.
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O presidente russo, Vladimir Putin, disse um pouco antes que a Rússia havia se tornado o primeiro país do mundo a conceder aprovação regulamentar para uma vacina COVID-19 após menos de dois meses de testes em humanos, movimento saudado por Moscou como prova de sua habilidade científica.
A vacina ainda tem que completar os testes finais, levantando preocupações entre alguns cientistas quanto ao processo rápido de sua aprovação, mas o conglomerado empresarial russo Sistema disse que espera colocá-la em produção em massa até o final do ano.
Os profissionais de saúde russos que tratam de pacientes com COVID-19 terão a chance de se voluntariarem para serem vacinados nas próximas semanas, disse uma fonte à Reuters no mês passado.
Dmitriev saudou o desenvolvimento como um “momento Sputnik” histórico, comparável ao lançamento do Sputnik 1, pela União Soviética em 1957, o primeiro satélite do mundo. A vacina será comercializada sob o nome de ‘Sputnik V‘ em mercados estrangeiros, disse ele.
Dmitriev disse que a Rússia já havia recebido pedidos estrangeiros de 1 bilhão de doses. Foram firmados acordos internacionais para a produção de 500 milhões de doses anuais, incluindo a produção no Brasil. Ele disse que os testes clínicos devem começar em breve nos Emirados Árabes Unidos e nas Filipinas.
Mas apenas cerca de 10% dos testes clínicos são bem-sucedidos, e a velocidade com que a Rússia se moveu, aprovando uma vacina antes que os estágios finais dos testes para testar a segurança e eficácia acabassem, preocupou alguns cientistas, que temem que Moscou possa estar conferindo prestígio nacional antes da segurança.
Falando em uma reunião do governo na televisão estatal, Putin descartou essas preocupações, dizendo que a vacina era segura e que havia sido administrada até mesmo a uma de suas filhas. “Sei que funciona de maneira bastante eficaz, forma uma forte imunidade e, repito, passou em todas as verificações necessárias”, disse Putin.

Testes da Fase III ainda não começaram
A aprovação da vacina pelo ministério da saúde vem antes do início de um ensaio maior envolvendo milhares de participantes, comumente conhecido como Fase III.
Esses testes, que exigem uma determinada taxa de participantes que contraem o vírus para observar o efeito da vacina, são normalmente considerados precursores essenciais para que uma vacina receba aprovação regulatória.
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A Associação de Organizações de Testes Clínicos de Moscou (OTCA), um órgão comercial que representa as principais companhias farmacêuticas do mundo na Rússia esta semana pediu ao Ministério da Saúde para adiar a aprovação até que o testes tenham sido concluídos com sucesso.
Em uma carta ao ministério, o órgão disse que havia altos riscos associados ao registro de um medicamento antes disso acontecer.
Alguns especialistas internacionais também questionaram a velocidade com que a Rússia aprovou sua vacina. “Normalmente você precisa de um grande número de pessoas para serem testadas antes de aprovar uma vacina”, disse Peter Kremsner, do Hospital Universitário em Tuebingen, atualmente testando a vacina CureVac em ensaios clínicos.
“Nesse aspecto, acho que é imprudente fazer isso (aprovar) se muitas pessoas ainda não foram testadas.”
Duncan Matthews, professor de lei de propriedade intelectual na Queen Mary University of London, disse que a notícia de uma vacina potencial COVID-19 era bem-vinda, “mas a segurança deve ser a prioridade”.
“A Food and Drug Administration (FDA) e a European Medicines Agency (EMA) têm procedimentos de aprovação acelerados para uso humanitário de emergência e precisamos ver evidências de que a Rússia está adotando uma abordagem igualmente prudente”, disse Matthews em um comentário por e-mail .
Mais de 100 vacinas possíveis estão sendo desenvolvidas em todo o mundo para tentar impedir a pandemia de COVID-19. Pelo menos quatro estão em testes finais de Fase III em humanos, de acordo com dados da OMS.