Tecnologia

As redes 5G são uma ameaça à aviação?

Executivos das principais companhias áreas por lá alertaram para riscos de interferência no uso dos altímetros das aeronaves. Na Europa e no Brasil, isso não seria um problema

Equipamentos de 5G instalados numa torre da T-Mobile, em Seabrook, Texas
Equipamentos de 5G instalados numa torre da T-Mobile, em Seabrook, Texas, Estados Unidos. Maio de 2020. Foto: REUTERS/Adrees Latif/Arquivo
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Nesta semana, à medida que a AT&T e a Verizon implantavam novos serviços 5G, os executivos-chefes de algumas das principais companhias aéreas de passageiros e carga dos EUA alertaram para uma crise “catastrófica” na aviação. Eles disseram que o novo serviço 5G de banda C, previsto para começar a operar no país na quarta-feira, pode inutilizar um número grande de aeronaves, causando caos nos voos e até mesmo deixando dezenas de milhares de americanos no exterior.

Eis o pano de fundo da disputa: os Estados Unidos leiloaram novas faixas de banda 5G de médio alcance para empresas de telefonia móvel no início de 2021 (de 3,7 a 3,98 GHz no espectro conhecido como banda C) por cerca de US$ 80 bilhões.

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Quando isso é um problema?

A Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) alertou que a nova tecnologia 5G pode interferir em instrumentos como altímetros, que medem a distância que um avião está percorrendo. As frequências leiloadas nos EUA acabam ficando muito próximas deste intervalo.

Além da altitude, as leituras dos altímetros também são usadas para facilitar os pousos automatizados e ajudar a detectar correntes perigosas chamadas de cisalhamento do vento.

O CEO da United Airlines, Scott Kirby, disse no mês passado que as diretrizes 5G da FAA proibiriam o uso de altímetros de rádio em cerca de 40 dos maiores aeroportos dos EUA. As companhias aéreas dos EUA alertaram que, como estão, as novas redes podem interromper até 4% dos voos diários.

Segundo Kirby, isso pode impedir operações em alguns dos principais aeroportos do país em dias com muitas nuvens ou neblina pesada. “Você só poderia fazer abordagens visuais, essencialmente”.

Que diferença a frequência do 5G faz?

A tecnologia 5G precisa de um espectro de bandas baixas, médias e altas para atender uma variedade de usos (conexões e serviços), que vão da banda larga móvel melhorada (eMBB) até aplicações de Internet das Coisas (IoT) na indústria e na gestão das cidades. 

As bandas mais altas costumam desempenham melhor no quesito velocidade, mas as bandas sub-6GHz são mais apropriadas para ampliação de cobertura.

Parte do espectro de banda C leiloado nos EUA foi usado para rádio por satélite, mas a transição para 5G significa que haverá muito mais tráfego.

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O que dizem as operadoras?

A Verizon e a AT&T argumentaram que o 5G de banda C foi implantado em cerca de 40 outros países sem problemas de interferência na aviação.

Eles concordaram que é necessário haver zonas de amortecimento em torno de 50 aeroportos nos Estados Unidos, semelhantes aos usados ​​na França, por seis meses para reduzir os riscos de interferência.

Por que isso não é um problema em outros lugares, como Europa e Brasil?

Em 2019, a União Europeia estabeleceu padrões para frequências 5G de médio porte com faixas de 3,4 a 3,8 GHz, uma frequência mais baixa do que o serviço definido a ser lançado nos Estados Unidos.

No Brasil, o leilão do 5G também previu o uso das faixas mais baixas, de 700MHz, 2,3 GHz e, principalmente, de 3,5 GHz.

A largura de banda foi leiloada na Europa e está em uso em muitos dos 27 estados membros do bloco até agora sem problemas.

A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia (EASA), que supervisiona 31 estados, disse em 17 de dezembro que a questão era específica do espaço aéreo dos EUA. “Neste estágio, nenhum risco de interferência insegura foi identificado na Europa”, afirmou.

Funcionários da FAA notaram que o espectro usado pela França (3,6-3,8 GHz) fica mais longe do espectro (4,2-4,4 GHz) usado para altímetros nos Estados Unidos e o nível de potência da França para 5G é muito menor do que o autorizado nos Estados Unidos. O mesmo ocorrerá no Brasil.

A Verizon disse que não usará o espectro mais próximo da banda mais alta por vários anos.

Na Coreia do Sul, a frequência de comunicação móvel 5G é de 3,42-3,7 GHz e não houve relato de interferência com ondas de rádio desde a comercialização do 5G em abril de 2019.

Atualmente, estações sem fio de comunicação móvel 5G estão em operação perto de aeroportos, mas não houve relatos de problemas.

“As operadoras sem fio em quase 40 países da Europa e da Ásia agora usam a banda C para 5G, sem efeitos relatados em altímetros de rádio que operam na mesma banda de 4,2-4,4 GHz designada internacionalmente”, disse a CTIA, um grupo comercial dos EUA, em um comunicado protocolado na Comissão Federal de Comunicações.