As presença das marcas é inevitável no nosso cotidiano e diversas delas já tornaram-se tão fortes que substituem o nome dos produtos em si. Para os brasileiros, as astes de algodão são popularmente conhecidas como Cotonetes, nome da principal marca do segmento, ao mesmo tempo em que Nescau é a referência mais popular a achocolatado em pó e a pergunta “você tem Netflix?” já tornou-se a forma mais usada para descobrir se alguém possui uma assinatura de streaming, revelando o quão popular a marca já é entre os brasileiros.
Mas no que depender dos novos competidores neste mercado, consagrar esta hegemonia de vez em mercados latino-americanos não será tão simples, já que 2019 foi um ano marcado por grandes anúncios de novos serviços de streaming e disputa de atrações, como a série Friends, a mais assistida do portfólio da Netflix até então que em 2020 passará a integrar a programação do HBO Max. Enquanto isso, o Disney+ será lançado com todo o conteúdo da poderosa Marvel, detentora de uma ampla comunidade de fãs ansiosos por ter todos os filmes à sua disposição, além das tradicionais histórias clássicas.
E enquanto no ano passado as grandes empresas aproveitaram o momento para colocarem todas as cartas na mesa, anunciando seus novos produtos e grandes promessas, sejam elas grandes atrações ou benefícios secundários, como a estratégia da Amazon com o lançamento do pacote Prime no Brasil, nos EUA a batalha já começou a pegar fogo.
CONFIRA TAMBÉM: “Amazon Prime e Apple TV+ abrem nova frente de batalha no streaming na América Latina“
Entre todas as gigantes que lançaram seus novos produtos no país durante o segundo semestre de 2019, a Disney parece ter a carta mais poderosa na manga, tornando-se o principal competidor do segmento com um valor de mercado já estimado em mais de $ 100 milhões (o equivalente a cerca de 69% do atual valor do Netflix) em apenas 2 meses.
Na América Latina, a sorte ainda será lançada e a verdadeira batalha está prestes a começar.
Menos volume, mais consolidação

A palavra do ano de 2019 para o mercado de streamings foi descentralização, com grandes empresas apostando suas fichas no lançamento de novos produtos do segmento, os consumidores viveram uma verdadeira virada de chave passando de um mundo em que a Netflix parecia ser a única opção para um novo universo com diversas novas plataformas para serem testadas.
Na América Latina, esta grande onda de competitividade ainda está por vir, considerando que gigantes como Disney+ ainda irão estrear na região, mas ainda assim é impossível negar que os resultados dos produtos já lançados internacionalmente ditam tendências e movimentações similares devem também acontecer nos países latino-americanos. Por isso, a grande aposta é que a palavra do ano de 2020 seja consolidação.
Entre todos os novos streamings que devem chegar aos países latino-americanos neste ano, um número bem menor deve realmente conquistar uma parcela significativa da audiência, principalmente pela força que a Netflix já possui na região, especialmente no Brasil que é o terceiro maior mercado da marca a nível mundial.
As principais apostas apontam que os protagonistas da disputa pelas maiores parcelas da audiência latino-americana serão o Disney+, que apesar de ter sido lançado a apenas 2 meses já é uma grande promessa mundialmente, Apple TV, HBO Max e Amazon Prime.
Além disso, os primeiros concorrentes locais também começaram a despontar em 2019 e devem buscar a consolidação do seu produto entre o público-alvo fiel a programação de novelas e mini-séries latino-americanas. Um grande exemplo disso é o Grupo Globo, maior conglomerado de mídia da América Latina, que tem fortalecido a cada dia mais o Globo Play, produto de streaming que contempla as produções próprias do grupo e disponibiliza conteúdos exclusivos online para assinantes.
CONFIRA TAMBÉM: “Maior conglomerado de comunicação da América Latina, Globo quer ser uma “media tech”
Em meio a guerra de preços, o conteúdo segue sendo o rei
Assim como em qualquer segmento, o aumento da competitividade leva diretamente a uma redução nos preços, mas no mercado de streamings, isso não é tudo para garantir a fidelização dos usuários, as produções próprias são a verdadeira resposta.
Ao contrário da venda de um produto físico na qual a redução de margem de lucro é a maior arma usada por comerciantes para aumentar o volume de transações e lucrar com a venda em massa, no mercado de streamings uma estratégia agressiva de precificação pode sim ser suficiente para garantir um aumento momentâneo de inscritos, mas se não houverem lançamentos no catálogo em curto prazo, a verdade seja dita, esses usuários só ficarão ativos até que o próximo filme da Netflix seja divulgado.

Ainda que os grandes nomes internacionais tenham títulos já consagrados em seus catálogos, a Netflix conta com um número muito maior de títulos próprios e uma velocidade de novos lançamentos que nenhum de seus concorrentes consegue acompanhar por enquanto. A empresa destaca-se, principalmente, pela capacidade produzir histórias locais e adequadas a cada região, entregando ao usuário um conteúdo próximo a sua realidade e alinhado a cultura, o que nenhum outro grande streaming realizou até o momento. Este, sem dúvidas, é um principais pilares que explicam o sucesso da marca na América Latina.
Mesmo que a atual líder global no segmento tenha um grande desafio em relação a equilibrar os custos destas produções em relação aos lucros da empresa, desacelerar as criações próprias definitivamente não é uma opção.

Neste quesito, os streamings locais também largam na frente. No Brasil, a Globo Play, por exemplo, também destaca-se em relação a produção de conteúdo nacional para atender ao público que tradicionalmente acompanha as tramas das novelas brasileiras e assiste a programação aberta da Rede Globo. Além disso, o streaming tem apostado também em conteúdo com foco musical, lançando com frequência material relacionado a shows e bastidores de grandes eventos musicais de artistas populares no país.
No fim do dia, quem vence são os usuários

A disrupção veio para ficar, tirar grandes empresas da zona de conforto e elevar o mercado a um novo patamar. Assim como aconteceu no segmento mundial de transportes com o surgimento do Uber, quando o aumento da competitividade promoveu uma descentralização do mercado que exigiu a melhora dos serviços prestados. Agora, a vez dos streamings chegou.
Independente do desfecho da batalha pela liderança deste mercado, a Netflix está sendo forçada a melhorar o conteúdo e serviços oferecidos a cada dia mais para garantir a fidelidade da base de usuários que já conquistou ao longo dos últimos anos. Por outro lado, os concorrentes buscam constantemente novas soluções para superarem o então líder.
O resultado final é uma inegável evolução de todo o mercado para entregar a melhor experiência ao usuário, seja pela corrida para garantir o melhor portfólio ou mesmo pelas novas opções de distribuição destes streamings, como pacotes de TV a cabo que já incluem a assinatura de mais de um streaming em uma única mensalidade, por exemplo.
A verdade é que há espaço no mercado para novos players e muita inovação, mas apenas aqueles que se disponham a oferecer uma experiência de qualidade com um custo-benefício alinhado com as necessidades dos latino-americanos irão cumprir a missão de conquistar a sua tão sonhada parcela significativa do público latino-americano.