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Antisséptico bucal ajuda a evitar que coronavirus se multiplique, dizem pesquisadores brasileiros

Pesquisadores e a empresa Dentalclean desenvolveram a fórmula PHTALOX, que transforma o oxigênio da cavidade oral em reativo e inativa o SARS-Cov-2, impedindo a multiplicação dele no organismo

Foto: Shutterstock
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  • O produto foi aprovado pela Anvisa em outubro e deve chegar aos consumidores em dezembro;
  • Os pesquisadores afirmam que o produto deve ser visto como um coadjuvante das medidas de prevenção contra vírus, não como medicamento.

Um antisséptico bucal capaz de inativar 96% do SARS-Cov-2 na boca, bloqueando a proliferação do vírus na cavidade oral e impedindo que ele avance para o restante do organismo humano. Esse é o resultado de uma série de estudos divulgados na terça-feira por um grupo de cientistas e a fabricante de produtos de higiene bucal, Dentalclean.

**ATUALIZAÇÃO: Anvisa cancela registro de enxaguante bucal que promete barrar multiplicação do novo coronavirus**

O produto já foi aprovado pela Anvisa em outubro e deve começar a chegar aos consumidores em dezembro. A pesquisa, que durou nove meses entre testes de laboratório e ensaios clínicos, envolveu 107 pessoas em um estudo clínico randomizado e triplo-cego (quando nem o paciente nem o pesquisador sabem quem usou o placebo e quem usou a substância real).

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Com isso, o enxaguatório e o antisséptico oral podem ser uma nova forma de prevenir a propagação da COVID-19. Segundo os pesquisadores, os pacientes tornam-se assintomáticos poucos dias após o início do protocolo de uso de antissépticos: cinco bochechos e gargarejos diários de um minuto cada.

“O PHTALOX é um composto desenvolvido que permite a formação de oxigênio reativo a partir do oxigênio molecular, ou seja, ele transforma o oxigênio da cavidade bucal em oxigênio reativo e essa molécula é capaz de inativar o SARS-Cov-2”, explicou o pesquisador Fabiano Vilhena, durante coletiva de imprensa. 

Vilhena, que também é Cirurgião Dentista Sanitarista e Doutor em Biologia Oral pela Universidade de Odontologia de Bauru – USP, explicou que “existe um caminho para o vírus dentro do organismo”. A rota de entrada é pela via aérea superior, olhos, nariz e boca. O vírus tem que se alojar em algum local para se multiplicar, que são, principalmente, glândulas salivares, amígdala e língua. É onde o vírus se desenvolve e depois dissemina para o organismo, seguindo o caminho da traqueia e descendo até os brônquios e causando reações inflamatórias. Impedindo que o vírus se multiplique e avance, o paciente se torna assintomático. 

O trabalho tem sido conduzido pelos pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Bauru), Instituto de Ciências Biológicas da USP, Universidade Estadual de Londrina e Instituto Federal do Paraná, juntamente com o Centro de Pesquisa e Inovação da empresa Dentalclean, desenvolvedora do produto.

Estudar os efeitos de enxaguatórios bucais e anti-sépticos orais em vírus infecciosos não é uma novidade, mas tem ganhado mais atenção desde o início do surto de coronavírus. Vários outros estudos semelhantes a este foram publicados em todo o mundo.

Estudo Clínico Randomizado Triplo Cego: pacientes que utilizaram o placebo foram a óbito

Com início em agosto, o Estudo Clínico Randomizado Triplo Cego envolveu o Centro de Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP) e o Hospital Estadual da cidade, com 18 pesquisadores. Foram selecionados 91 pacientes voluntários para participar da pesquisa, internados no Hospital Estadual de Bauru por sintomas de COVID-19.

Segundo o estudo, 50 deles tiveram resultado de RT-PCR negativo, apesar de estarem internados com sintomas, foram excluídos da pesquisa por terem negativado para a doença. Os 41 pacientes hospitalizados com RT-PCR positivo com grau leve e moderado da doença, sem estarem internados em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), foram divididos em 2 grupos: os que fizeram uso do Antisséptico Bucal Ativo (PHTALOX®) e o Antisséptico Bucal Placebo (água + sabor + corante). 

A amostra do grupo ativo era em média mais idosa que o grupo placebo. Ambos os grupos fizeram o uso dos mesmos medicamentos para tratamento da COVID-19, diferindo apenas em relação ao antisséptico bucal. Segundo o estudo, a literatura científica mostra uma tendência de que pacientes mais novos tenham alta mais rápida do que os mais idosos, portanto, esperava-se que o grupo placebo fosse se recuperar mais rápido.

Entretanto, a amostra ficou quase o dobro do tempo internada a mais que os indivíduos que usaram o PHTALOX®. Outro resultado que surpreendeu os pesquisadores está relacionado à severidade da doença. Dentre os indivíduos que usaram o placebo, 1/3 precisou de internação em UTI por estado grave, e destes metade foi a óbito. Já no grupo que usou o protocolo com o produto desenvolvido, nenhum paciente precisou ser encaminhado para a UTI e muito menos foi a óbito.

Os estudos estão sendo submetidos a periódicos científicos internacionais. Outros dez estudos da mesma pesquisa com novas instituições, incluindo estudos epidemiológicos, clínicos e caso-controle envolverão cerca de 2.100 pessoas. As pesquisas serão finalizadas e também encaminhadas para publicação prevista para o início de 2021. Todas as pesquisas foram aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Ministério da Saúde e registradas no ReBEC, Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos.

A Dentalclean investiu mais de R$ 10 milhões nessa pesquisa, incluindo desenvolvimento de produto, ampliação da fábrica e aquisição de equipamentos. O antisséptico DETOX PRO, que é o nome comercial do enxaguatório bucal contendo PHTALOX®, deve chegar às farmácias e supermercados em dezembro com preço sugerido de R$ 30.