O Banco Central anunciou nesta quinta-feira (22) que vai incorporar o serviço de iniciador de pagamentos ao PIX. Na prática, será mais uma alternativa para transferências entre pessoas e transações de e-commerce feitas por meio do sistema de pagamentos instantâneo. Com os iniciadores de pagamento, será possível, por exemplo, comprar algo no iFood e pagar com PIX sem precisar sair do app para colar o código QR Code no aplicativo do banco – isso, se o iFood obtiver a licença de iniciador de pagamentos PIX.
Atualmente, embora as transações PIX possam ser feitas em caixas eletrônicos e por internet banking, elas são geralmente efetuadas pelos aplicativos das 760 instituições de pagamento autorizadas a operar pelo PIX com o Banco Central, como o Nubank, os grandes bancos Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e carteiras digitais como PicPay e Mercado Pago, por exemplo.
Ou seja, para fazer uma transferência para outra pessoa, o cliente precisa entrar no aplicativo da instituição financeira e selecionar a opção PIX. A partir daí, o usuário é levado para o ambiente do PIX dentro do app da instituição, onde escolherá como fará os pagamentos, seja digitando a chave manualmente, por QR Code ou por “PIX copia e cola” (o código do QR Code para smartphones que não conseguem ler a imagem).
Em resumo, com o iniciador de pagamentos, não será mais necessário entrar no app da instituição financeira para fazer transações PIX.

Em coletiva de imprensa, o chefe e consultor da gerência de gestão e operação do PIX, Carlos Eduardo Brandt, disse que os ajustes do PIX para incorporar este novo serviço estão alinhados com a agenda do Open Banking do Banco Central.
O Open Banking permite que o cliente autorize que a conta dele seja associada a outros ambientes – outras empresas – , que poderão iniciar uma transação sem que necessariamente o usuário use o aplicativo da instituição financeira. Esses iniciadores de pagamentos são empresas dedicadas a essa finalidade, que não ofertam contas correntes necessariamente.
Mas nada impede que o Nubank obtenha a licença para ser um iniciador de pagamentos também, por exemplo. Essa inclusive é a licença que o WhatsApp tem.
Quando o Facebook anunciou pagamentos por WhatsApp no Brasil em junho do ano passado, o Banco Central não autorizou o serviço. Mas, este ano, a autoridade monetária permitiu que o WhatsApp fosse um iniciador de pagamentos entre pessoas.
Ou seja, o que hoje o WhatsApp faz no Brasil (transferências instantâneas dentro do mesmo aplicativo de mensagens) é o que o PIX pretende oferecer agora com os iniciadores de pagamento, que prestarão serviços aos chamados PSP (Payment Service Provider). Se o WhatsApp quiser ser um iniciador de pagamento do PIX, deverá solicitar autorização do BC e implementar os requisitos técnicos até 30 de agosto.
LEIA TAMBÉM: Yape quer liderar revolução dos pagamentos instantâneos no Peru
Hoje, o WhatsApp processa os pagamentos pela Cielo e o pagamento é feito pelo cartão de débito associado ao app de mensagens. Se o WhatsApp pedir autorização para operar com PIX, o usuário poderá escolher se quer fazer a transação por PIX ou por cartão de débito dentro do app, por exemplo.
Pagamentos PIX dentro do próprio app de e-commerce
Brasileiros que pagam em sites e apps de e-commerce hoje pelo PIX precisam sair do app da loja, abrir o aplicativo da instituição financeira e fazer o processo de colar o link do QR Code, por exemplo. Tudo isso tem sete etapas.
Com o iniciador de pagamentos, o Banco Central quer reduzir a fricção e diminuir as etapas de pagamento para apenas três. Assim, será possível que a própria loja e-commerce seja uma iniciadora de pagamentos para completar a transação PIX dentro do app. Isso gera maior retenção para os lojistas e menos chances de o usuário desistir da transação no meio do processo. O lojista também poderá se associar a uma empresa iniciadora de pagamentos.
LEIA TAMBÉM: PIX terá mecanismo para devolução em caso de fraude ou falha
O BC não deu estimativas sobre em quanto espera que a novidade aumente transações PIX, mas a ideia é tornar o serviço mais “democrático” e dar mais alternativas aos usuários, reduzindo etapas de pagamento.
Segundo Breno Lobo, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, o iniciador de pagamentos até pode cobrar uma taxa pelo serviço. Mas, ele não acredita que as empresas farão isso, porque se ficar mais caro fazer o pagamento PIX por meio do app de e-commerce, o usuário simplesmente migrará para o app da instituição financeira para fazer a transação.
LEIA TAMBÉM: Amazon vai aceitar pagamentos com PIX no Brasil
Para dar tempo para as empresas se adaptarem à nova funcionalidade, o Banco Central escalonou o cronograma para iniciadores de pagamento da seguinte maneira:
- 30/08/21: inserção manual e chave Pix; disponíveis as transferências por iniciadores de pagamentos entre pessoas.
- 30/09/21: diretamente pela instituição que prestar o serviço de iniciação; disponível a opção para e-commerce e mobile commerce.
- 01/11/21: QR Code estático e dinâmico, disponível a possibilidade de efetuar um agendamento a partir de iniciadores.
PIX já superou boletos, TEDs e DOCs
Desde o lançamento do PIX em novembro de 2020, os brasileiros adotaram o sistema em massa. Em junho, foram 743 milhões de transações com R$ 441 milhões transacionados e o sistema já superou o uso de outros meios de pagamento como TEDs, DOCs e até boletos.
A Nuvemshop, plataforma aberta de comércio eletrônico, disse que registrou aumento de 50% nos pagamentos via PIX entre maio e junho deste ano. Desde o lançamento da modalidade na plataforma, na primeira quinzena de março, o número de lojas virtuais que aceitam receber transferências instantâneas mais que dobrou, e o valor transacionado saltou de R$ 1,5 milhão (nos primeiros 15 dias) para mais de R$ 16 milhões em pagamentos.