“IA é bem diferente de engenharia: não é o caso de fazer um plano e executá-lo, mas sim de aprender com os erros. Também é uma questão de cultura: não é um problema só da área de tecnologia, mas sim do negócio todo”. Sylvain Duranton, um dos consultores que participaram do estudo realizado pelo Boston Consulting Group em parceria com o Massachusetts Institute of Technology, explicou em entrevista ao Estadão, os motivos pelos quais sete em cada dez projetos de inteligência artificial fracassam, conforme constatou a pesquisa.
Embora tenha se tornado popular dizer que uma empresa que não investe em IA ficará desatualizada, o estudo realizado em 97 países, com mais de 2,5 mil profissionais de 19 setores diferentes, mostrou que a resposta é um pouco mais complexa do que isso. “(…) Os executivos já perceberam que quem não conseguir achar um modo de usar essa tecnologia em escala estará fora do jogo. Para isso, porém, não basta só desenvolver soluções: é preciso ter cultura. Quando um projeto de IA é reportado para a área de tecnologia da empresa, ele tem duas vezes menos chances de dar certo do que quando está sob o comando da área de negócios ou do presidente executivo”, explicou o especialista.
LEIA TAMBÉM: A revolução das foodtechs no mercado da América Latina
Defensor da ideia de que a inteligência artificial deve complementar o trabalho humano, em vez de substituí-lo; Duranton levantou uma grande preocupação – o que ele chama de algocracia – um sistema no qual a falta de humanidade nas burocracias é combinada com a alta velocidade do mundo digital. “Uma algocracia é mais rápida, mas seus danos causam mais estrago. Numa grande burocracia, há o fator humano: apesar das regras, as pessoas tentam se comprometer com o que é certo. O tempo também evita que grandes distorções aconteçam. Já um algoritmo tomará decisões instantâneas – podendo afetar toda a justiça social do planeta em questões de segundos, por exemplo”.
Com relação aos países que tiveram melhor desempenho ao implementar projetos de IA, a pesquisa mostrou que a China e os EUA lideraram os resultados, seguidos pelo Reino Unido, Europa e Japão – o que o especialista explicou como sendo mais uma questão de cultura do que de talento. Para ele, nesse sentido, a Europa e o Brasil têm uma semelhança que ele chama de “cultura da engenharia”. “Uma empresa que é bem-sucedida com IA têm um ciclo muito rápido de inovação e trabalha com times ágeis – algo raro nas empresas europeias, que visam a perfeição da engenharia. O pragmatismo é melhor que a perfeição, nesse caso”, afirmou Duranton ao veículo.