Tecnologia

Facebook procura executivo para liderar operação do WhatsApp no ​​Brasil

Fora dos Estados Unidos, apenas a Índia tem posição semelhante, o que indica o quão relevante o país é para o aplicativo de mensagens

ícone do whatsapp em forma de peças de lego
Foto: Lewis Tse Pui Lung/Shutterstock
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  • O Brasil será um dos primeiros mercados a receber o WhatsApp Pay, recurso para pagamento e transferência de dinheiro já sendo testado na Índia;
  • O futuro executivo também estará ocupado em responder ao papel do WhatsApp na disseminação de notícias falsas no Brasil.

O Facebook está procurando um executivo para preencher uma vaga de diretoria para o WhatsApp no Brasil. Fora dos Estados Unidos, apenas a Índia tem uma posição semelhante, o que indica a importância do Brasil para o futuro do serviço de mensagens.

Mais de 130 milhões de brasileiros usam o WhatsApp em seus telefones celulares e 98% dessa audiência é composta por usuários que acessam o aplicativo pelo menos uma vez por dia. O aplicativo tem aproximadamente 2 bilhões de usuários em todo o mundo.

Anúncio da vaga para chefe do WhatsApp no Brasil, postado no LinkedIn. Imagem: Captura de tela.

Em fevereiro, o WhatsApp escolheu o Brasil para lançar sua primeira campanha de marca no mundo. O momento e o tema do primeiro filme da campanha também revelaram a importância do mercado brasileiro para o aplicativo de mensagens do Facebook: Carnaval. 

“O Brasil é um dos principais mercados da empresa em todo o mundo, por isso decidimos lançar a campanha aqui e prestar homenagem à solidariedade dos brasileiros inspirados por uma das tradições mais queridas do país”, Taciana Lopes, chefe de marketing ao consumidor no Facebook Brasil, declarou na época.

O Facebook está pronto para lançar o WhatsApp Pay, um recurso de pagamento e transferência de dinheiro, ainda este ano. Por enquanto, uma versão de teste está sendo executada na Índia, mas Mark Zuckerberg disse em janeiro que a tecnologia estará disponível para usuários em países onde o aplicativo de mensagens tem uma presença forte, como Brasil e México.

Buscando navegar na onda de transformação de pagamentos digitais em mercados emergentes, a escolha do Facebook para esses países não é mera coincidência: além de serem líderes no uso do WhatsApp, esses são lugares com muito espaço para crescimento quando se trata de pagamentos digitais, devido a uma grande parcela da população desbancarizada e ineficiência das instituições tradicionais.

Como escreveu Nilton Kleina, jornalista que cobre tecnologia, para o LABS: “O próximo serviço não apenas modificará o modelo de negócios da empresa, mas principalmente abrirá novos horizontes de mercado e em muitas regiões”.

A pandemia de coronavírus acelerou a adoção do WhatsApp como plataforma comercial no Brasil. Com as lojas físicas fechadas durante o período de quarentena, muitos vendedores viram o aplicativo como uma maneira de manter contato com os clientes e continuar seus negócios. Uma pesquisa realizada pela Aivo com 130 empresas mostra que as conversas entre usuários e empresas no WhatsApp cresceram 516% entre fevereiro e abril.

A plataforma se tornou uma ferramenta essencial para empresas de pequeno, médio e grande porte. A Via Varejo, proprietária das redes brasileiras Casas Bahia e Ponto Frio, forneceu o aplicativo para mais de 7.000 vendedores e viu sua receita de comércio eletrônico disparar. A Ri Happy, maior varejista brasileira especializada em brinquedos, estava basicamente ausente da web antes da pandemia, mas agora recebe pedidos por WhatsApp. E a Cielo, a maior adquirente de pagamentos do Brasil, está negociando com o Facebook para processar pagamentos via WhatsApp.

A estratégia do WhatsApp para o Brasil deve incluir um plano para controvérsias políticas

O próximo executivo certamente estará ocupado em responder ao papel do WhatsApp na disseminação de notícias falsas no Brasil. Oportunistas aproveitam o alcance da plataforma em todo o país para disseminar desinformação – e de maneira organizada e bem financiada, alguns suspeitam, quando se trata de mensagens de natureza política.

Vários processos judiciais sobre o uso do aplicativo para compartilhar notícias falsas estão pendentes no Supremo Tribunal Federal. As redes de desinformação e seus benfeitores são objeto de investigações de um comissão do Congresso, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal de Contas da União.

O Supremo Tribunal Federal vem investigando a disseminação de notícias falsas nas mídias sociais e aplicativos de mensagens e a orquestração de campanhas de difamação contra juízes. Recentemente, a Polícia Federal fez busca em seis estados, apreendendo computadores, telefones e documentos.

O Facebook anunciou no mês passado os membros de seu Conselho de Supervisão e um dos integrantes é do Brasil. Ronaldo Lemos, advogado especializado em direito digital e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), disse ao LABS que o convite do Facebook o deixou feliz, “ao mesmo tempo consciente da enorme responsabilidade” em mãos.

Essa é realmente uma enorme responsabilidade, porque o conselho agirá como uma espécie de ‘tribunal superior’, para o qual os usuários ou o próprio Facebook podem recorrer sobre questões relacionadas à remoção ou substituição de conteúdo controverso no Facebook e Instagram. Novamente, o WhatsApp apresenta um dilema, porque as mensagens na plataforma são criptografadas e, diferentemente das postagens nas redes sociais, não são publicadas.

A empresa está ciente do problema em mãos. Em abril, o WhatsApp estabeleceu um novo limite para a frequência com que uma mensagem poderia ser encaminhada na plataforma, para um contato por vez. Desde a implantação da nova regra, globalmente houve uma redução de 70% no número de mensagens muito encaminhadas, informou a empresa.

Oportunidades, desafios e dilemas certamente ocuparão a maior parte do trabalho diário do próximo chefe do WhatsApp no Brasil.