- Startups de micromobilidade usam o discurso da sustentabilidade como parte de seu modelo de negócio;
- E esse discurso não é necessariamente verdadeiro. Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte mostra que os patinetes podem ser mais poluentes que o ônibus.
A Grow (resultado da união entre a mexicana Grin e a brasileira Yellow) e a Lime, startup americana investida pelo Uber e que desembarcou no Brasil no mês passado, têm nos vendido a ideia de que estão deixando as cidades mais verdes com os patinetes elétricos. Do ponto de vista do negócio, o potencial dessas startups de micro-mobilidade é enorme, elas exploram um mercado avaliado em US$ 17 bilhões, de acordo com a Global View Research. Mas a narrativa favorável ao clima usada por elas não é exatamente verdadeira.
De acordo com um novo estudo publicado no periódico Environmental Research Letters, os patinetes são, na verdade, piores para o meio ambiente do que alguns dos meios de transporte que eles pretendem substituir.
Joseph Hollingsworth, Brenna Copeland e Jeremiah X Johnson, pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte responsáveis pelo estudo, explicam que embora esses patinetes não tenham emissões de escape como outros modais, uma avaliação completa do ciclo de vida deles se faz necessária para entender adequadamente seu impacto ambiental.
Foi isso o que eles fizeram, começando com a revisão de estudos sobre bicicletas, bicicletas elétricas, veículos elétricos e outros meios de transporte similares, já bem pesquisados ao longo dos anos pela academia, e complementando isso com a avaliação de diferentes cenários de uso, transporte e manutenção desses equipamentos, também ao longo do tempo.
Basicamente, eles descobriram que, embora os patinetes sejam realmente mais sustentáveis que os automóveis, mesmo os elétricos, eles produzem mais gases poluentes por quilômetro do que deslocamentos feitos de ônibus, bicicleta e, obviamente, a pé.
O maior problema não é o fornecimento ou a manutenção de tais equipamentos, mas o ecossistema que os envolve e o processo de fabricação. Os materiais usados em sua fabricação, por exemplo, tais como as rodas, as baterias, bem como a jornada diária de pegar, recarregar e devolver esses equipamentos às ruas são o verdadeiro problema dessa equação.
Sem falar no eventual custo extra do vandalismo, que acabam reduzindo a vida útil desses equipamentos e provocando mais deslocamentos e gastos com o transporte dos patinetes, como bem lembrou o site Neofeed ao repercutir o estudo aqui no Brasil.
Embora a tecnologia dos patinetes não seja considerado algo em um estágio inicial de desenvolvimento, alertam os cientistas, o modelo de negócios que os envolve, compartilhado e sem estações físicas, emergiu em 2018 e ainda está evoluindo. É por isso que esse tipo de estudo é tão importante: esse uso deve ser repensado e aprimorado para que os patinetes possam, de fato, atender seu potencial sustentável.